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COLUNAS

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  • 4 de nov. de 2019
  • 1 min de leitura

Vilmar Madruga



A mostra do pintor inglês Francis Bacon atualmente em exposicao no Beaubourg de Paris é tão intraduzível quanto seu titulo: Bacon em toutes lettres. Tanto nos retratos povoados de rostos irreconheciveis até os grandes formatos e tripicos, o artista apresenta fase de pleno domínio técnico e de linguagem, revelando equilíbrio e fúria sobre cada tela.

Trata-se do maior numero de obras inéditas já vistas do pintor. Em precisas construções Bacon ilumina cenas de corpos em luta, amantes mutilados, filtrados por uma impiedosa luz de morte e solidão, onde o pintor expõe as vísceras do drama humano. Numa montagem irrepreensível, há nichos de salas espalhados pela mostra, onde ouvimos locuções de textos de autores lidos pelo pintor. Escritores que ele considerava de sua família espiritual e que influenciaram suas produções: Ésquilo, Proust, Nietzsche, Bataille. Há muitas surpresas nessa especie de solene instalação do caos. Uma exposição memorável para pensarmos a arte como gesto de fúria e porque não, encantamento.

  • 31 de out. de 2019
  • 1 min de leitura

Vilmar Madruga

Não costumo visitar cemitérios. Sigo a norma de deixar os mortos enterrar seus mortos. Mas me senti atraido pela beleza do cemitério de Saint Paul de Vence e acabei topando com o túmulo de Marc Chagall q ali morou. Estranhei a ausência de flores como os demais. Ao invés delas havia muitas pedras sobre a lápide. Algumas ao natural e outras escritas ou pintadas por herdeiros ou admiradores do pintor, imagino. Descubro então tratar se de um costume judaico. Os altares de adoração no antigo testamento e até mesmo o altar em q Abraão iria sacrificar o filho Isaac era formado apenas por pedras. Com o tempo o povo hebraico abandonou as flores e passou a depositar pedras no lugar de flores perecíveis. As pedras, segundo os judeus, remetem à memória do eterno, do duradouro, daquilo q se deseja para a alma de quem partiu. Achei bonito.

  • 28 de out. de 2019
  • 1 min de leitura

Vilmar Madruga




Ainda que muitos não considerem Um dia de chuva em Nova York o melhor roteiro de Woody Allen exageram, no entanto, quem diz considerá-lo mais um filme “esquecível” do diretor. Lançado em meio ao imbróglio de acusações de assédio sexual do diretor, inocentado em dois tribunais americanos, o filme utiliza o próprio universo do cinema para tocar no assunto e falar da vulnerabilidade dos relacionamentos, dos desencontros e das imprevisíveis armadilhas do destino. Uma tão divertida qto despretensiosa comédia romântica onde a produção, como sempre, cerca-se de um elenco de peso. Thimothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) tem o naturalismo que se encaixa como uma luva no alterego do diretor com seu indefectível casaco marron. Elle Fanning (Malévola), Jude Law (Closer) e Selena Gomez também integram o time de atores. A fotografia privilegia os tons ocres da luz sobretudo ao atravessar as imagens nos breves tempos de estio. Assim como a música, ela fortalece o tom nostálgico desse retorno de Woody Allen à sua Nova Iorque. Na entrevista de lançamento da produção um jornalista associou o filme ao personagem Bartleby, o escrivão do conto de Melville e sua famosa frase: Eu preferia não. Realmente, trata-se da história de um diretor que não quer acabar seu filme, um estudante rico que não quer acabar os estudos e um personagem que não quer casar. E isso não é spoiler. Um dia de chuva em Nova Iorque pode não ser o melhor Woody Allen mas, está longe de ser um mau filme. Muito pelo contrário. Lançamento em novembro Brasil.

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