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COLUNAS

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  • 12 de dez. de 2019
  • 3 min de leitura

Bruno Thys

Chama a atenção como, em muitas discussões importantes, a mídia embarca na agenda do país, mas raramente pelo viés da sociedade: segue a pauta de interesses do mundo político. O debate da hora, por exemplo, é sobre os tais R$ 3,8 bilhões do Fundo Partidário, dinheiro público, que será destinado à campanha municipal do ano que vem.

Há um sem número de notícias todos os dias sobre os bilhões em questão, contemplando posições até acirradas sobre se tal montante é ou não suficiente, se parte do valor será ceifado da saúde ou da educação, etc. A discussão, no entanto, passa ao largo do cidadão: as notícias são repercutidas intramuros com os líderes do Congresso, com os caciques da política, relatores e por aí vai. Quem paga a conta não é ouvido; no máximo sondado em enquetes, via institutos de pesquisa. Não há, até aqui, nada sobre como serão controlados os gastos, assim como também não se vê matérias esclarecedoras na linha “partidos políticos S/A”, pautas que, de fato, interessariam ou seriam úteis à sociedade. Aliás, o funcionamento de um partido político merecia ser tratado eventualmente pelas editorias de economia. Por definição, são instituições sem fins lucrativos, mas por deformação, não. Além do quê, é direito do cidadão ser informado sobre o destino dos recursos públicos, que não brotaram do cofre: é extraído do suor de cada um de nós. Raramente se lê algo sobre a estrutura de um partido político, receitas, despesas, head-count, etc., etc. Eu e a esfuziante torcida do Flamengo não temos a menor ideia de quanto custa, de fato, uma campanha sem caixa 2, qual o montante necessário para eleger um vereador, um prefeito, quantos concorrem e quantas cadeiras há no país? São temas, estes sim, de uma agenda mais do cidadão do que do político. Partido virou negócio: há mais de 3 dúzias que proliferam lastreados em cláusulas de barreira extremamente brandas. Deve ser um ótimo negócio “fundar” um partido no Brasil. Tornou-se até popular a expressão “legendas de aluguel”, que vêm ao mundo para negociar tempo de TV e fazer alguns outros escambos. É um termo revelador do balcão de negócios que movimenta a engrenagem política no país. Com toda a certeza, não há uma ação coletiva ou deliberada dos meios de comunicação em optar por um lado do debate. Mas não há dúvida de que a mídia é usada para turvar as discussões sobre questões como essa, de interesse público. Se o conteúdo jornalístico se restringe a montantes, tanto melhor para os donos do jogo. Quanto mais se discutir o total a ser gasto, menos a população saberá sobre o destino do dinheiro. O que há, creio, é uma miopia dos meios misturada a um olhar viciado da cobertura política. O bordão “mais Brasil e menos Brasília“ tem tantos pais quanto órfãos. É uma bela frase de efeito que, infelizmente, não encontra respaldo na realidade. Ainda assim, demonstra o incômodo dos próprios jornalistas com o excesso de informações emanada de Brasília, de pouca relevância para a vida do cidadão. É um jornalismo que funciona mais na base do automático e que dá margem a críticas de que a cobertura “do paí é oficialesca ou chapa-branca. Nossa atividade é descendente direta da curiosidade, da dúvida, do inconformismo e da indignação. São atitudes e posturas mais do que suficientes para evitarmos as cascas de banana postas no nosso caminho e fazer a nossa parte que é cumprir a pauta do cidadão.

  • 12 de nov. de 2019
  • 4 min de leitura

Bruno Thys

Se eu fosse guia de turismo já teria criado o “roteiro carioca da corrupção”; um tour por endereços emblemáticos da cidade. Há muita coisa pra mostrar e, possivelmente, gente interessada em conhecer os inúmeros marcos da roubalheira oficial. É um programa interessante, também, para os alunos do ensino básico, com um forte viés pedagógico.

O ponto de partida poderia ser a Presidente Vargas, 817, sede Detran, o mais antigo endereço da corrupção na cidade. É uma máquina de arrecadação, algo em torno de R$ 250 milhões/mês e tudo ali envolve propina. É um tradicional símbolo da roubalheira no Estado. Os dois últimos presidentes foram em cana.

Vale uma meia trava ali bem pertinho, no número 370 da Marechal Câmara, prédio do Ministério Público Estadual. A instituição é idônea, mas foi comandada durante dois mandatos seguidos (quatro anos) por um sujeito chamado Cláudio Costa, preso sob a acusação de receber mesada no governo Cabral, entre outras barbaridades.

Segue-se até a Primeiro de Março, sede da Assembleia Legislativa, um dos maiores e mais movimentados balcões de negócios do estado. Mais de uma dúzia de seus deputados entraram, saíram, entraram e saíram novamente da prisão. Ali pontificavam Picciani, Paulo Mello e Albertasi, entre outros gangsters. Picciani era tratado de “dom picciani” por seus pares. Entre os próprios deputados, a Alerj é conhecida como ....“a casa das primas”.

Na Praça da República 70 fica a sede do Tribunal de Contas do Estado. Parada obrigatória. Encarregada de examinar as contas do governo estadual, a instituição teve cinco de seus seis conselheiros presos de uma só vez. Eles cobravam um dinheiro firme pra dar ok a obras superfaturadas, prática batizada no mundo da falcatrua oficial como “taxa de oxigênio”.

Rua da Assembleia 10 é outra visita obrigatória. Ali se reúne a maior e mais antiga quadrilha do Rio, comandada por sucessivas gerações da família Barata. Atende pelo nome de Fetranspor ou máfia dos transportes, dá no mesmo. O atual chefão, Jacó Barata, toda vez que vai em cana, é solto horas depois por Gilmar Mendes. Eles são compadres.

Avenida Chile 65, Petrobras. Também vale uma parada pra ouvir histórias e tirar fotos. É o grande símbolo do saque perpetrado ao país pelo mundo da política. A Petrobras detém o triste recorde de ter sido vítima do maior caso de corrupção do mundo, roubada simultaneamente por PT, PMDB, PP, etc em conluio com seus próprios gestores. A primeira parcial do que foi surrupiado, declarada oficialmente em balanço pela empresa, era de algo em torno de R$ 6 bilhões, mas quem se aprofundou sobre o tema, diz que essa conta passa fácil dos R$ 20 bi.

Pinheiro Machado, Laranjeiras. É um dos pontos altos do tour. Ainda que ninguém vá entrar no Palácio Guanabara, é bom ficar de olho na carteira. Atuaram ali, entre outros, Moreira Franco, o casal Garotinho, Cabral e Pezão.

Seguindo em direção à orla da Zona Sul, cabe uma parada no belo prédio na Avenida Borges de Medeiros, bem em frente ao Clube Naval, na Lagoa. É o endereço de Sérgio Cortes, comandante da quadrilha que assaltou a saúde estadual. Ele teria roubado algo como R$ 300 milhões e investido parte do dinheiro em hospitais privados, de primeiríssima linha. Mora na cobertura do prédio, de 800 metros quadrados.

Outro marco importante do tour fica na Aristides Espínola, quadra da praia, no Leblon, prédio onde morou Cabral, já muito rico. O Apartamento, tem até tampa de privada aquecida e 500 metros quadrados. Só o condomínio e o IPTU consumiam quase o dobro do que o governador ganhava “no oficial”.

Dobrando á direita, na elegante Avenida Delfin Moreira chega-se a dois endereços importantes: o de Cavendish, dono da Delta, a empreiteira do grupo de Cabral e o de George Sadala, o “salada”, amigo-fornecedor, que também enriqueceu do dinheiro público. Os dois - Cavendish e Sadala - são sócios-fundadores da “turma do guardanapo”.

O grand finale é a Rua Célio Nascimento, Benfica. É o atual endereço de Cabral e sua turma, onde Rosinha Garotinho e Adriana Ancelmo dividiram a mesma cela. É o lugar em que Garotinho disse ter levado uns cascudos no meio da madrugada. E o entra e sai não para...tem muita gente boa ali e também muita história pra contar

O tour terminaria em Benfica, mas é importante, neste ponto do passeio, registrar que ainda há muito mais coisas pra ver: a câmara de vereadores, o Presídio de Bangu, endereço atual de políticos e intermediários da corrupção; as casa de Eike Batista, no Jardim Botânico, e de Carlos  Artur Nuzman, no Jardim Pernambuco, que também já estiveram em cana.

Vale ainda oferecer uma extensão do tour ao condomínio Portobello, em Mangaratiba e conhecer a praia particular e as mansões de Cabral, Cortes. Wilson Carlos, Benedito Júnior (da Odebrecht). Nos finais de semana o lugar registrava o maior número de pousos e decolagens de helicópteros do país.

Enfim: o tour da corrupção no Rio é, sobretudo, uma bela oportunidade para conhecer o que foi feito do dinheiro público ou nosso dinheiro, tanto faz, é a mesma coisa.

  • 15 de out. de 2019
  • 3 min de leitura

Bruno Thys Dia desses me vi diante de um cano que acabara de estourar numa esquina do Leblon e água jorrava limpa pra todo lado. Puro e doloroso desperdício. A reação foi ligar pra Cedae. O Google, via celular, fez sua parte: digitei o nome da concessionária e em segundos eu estava no site da Companhia. Na tela, apareceu um monte de informações sobre serviços que o cliente poderia acessar, desde que preenchesse um formulário com vários campos.

Me lembrei então de uma experiência relativamente recente, de um querido amigo da vida toda, engenheiro formado no Rio e radicado na Suécia, que retornou ao Brasil em 2014 para trabalhar nos preparativos da Rio 2016. Ele tinha uma agenda a cumprir e liberdade pra contribuir com o olhar de quem vivia fora do país já há mais de 30 anos.

Uma das coisas que lhe chamaram a atenção foi a quantidade de telefones “úteis” para, em caso de emergência, acionar instituições, companhias e concessionárias de serviços públicos: polícia, Light, Rio Luz, Companhia de Gás, Comlurb, Cedae, Companhia de Tráfego, corte de árvores, Samu, Feema, Detran, Polícia Federal, Guarda Municipal, etc, etc, etc. Como não dispomos de outra experiência, achamos natural que cada um desses serviços tenha número e horário de atendimento próprios. Em muitos deles, o contato só funciona em horário comercial.

Nos países da Zona do Euro há apenas um número telefônico, no máximo dois, para todos os tipos de emergências. O cidadão liga para o número - o mesmo nos diferentes países - relata o tipo de emergência e o atendente o redireciona a quem possa dar a resposta mais rápida possível. Nada mais óbvio e racional. O cidadão deve e quer atuar como tal, ajudar a administração de seu bairro ou cidade, desde que disponha de canais para isso.

Se o indivíduo sabe de antemão que terá que queimar a mufa pra descobrir um telefone, de fato útil, adeus. Além do que, muitas vezes o sujeito é atendido por um serviço automático, moroso, e colocado em espera, forçado a ouvir mensagens institucionais randômicas ou musiquinhas irritantes, misturadas a uma chiadeira danada. Há ainda o mistério do “0800” não aceitar ligação de celular.

A unificação do atendimento é algo básico. Não cabe ao cidadão ter no bolso uma lista de telefones supostamente úteis, do tamanho de uma nota de compra mensal de supermercado. Nem o mais consciente dos humanos, sairia com uma agenda no bolso disposto a alertar os responsáveis por problemas nos serviços públicos em seu raio de alcance.

O maior cliente e aliado do gestor público é o cidadão. Ninguém está mais perto do problema - e sofre com ele - do que o cidadão. É o motorista ou o pedestre quem primeiro detecta um sinal com defeito, por exemplo. Está claro que não se deve esperar nada além do básico das diferentes esferas do poder público. O leque de serviços estará sempre aquém das necessidades e expectativas da população. Nesse sentido, o papel do cidadão deveria ser, cada vez mais, o de contribuir para melhorar os serviços públicos.

Pois meu amigo que veio da Suécia bem que se esforçou pra unificar os telefones de emergência, segundo ele, uma solução simples do ponto de vista meramente técnico. Respaldado pelo Comitê Organizador da Rio 2016, ele perambulou por concessionárias e se reuniu com empresas de telefonia. Todos acharam excelente a ideia, mas alegaram que as prioridades naquele momento eram outras...

E seguimos nós com a mais poderosa e fantástica das ferramentas á disposição do cidadão, que é o celular, mas sem grande utilidade para ajudar na gestão do espaço público. Com duas dezenas de telefones diferentes, um pra cada tipo de emergência, simplesmente é impossível fazer alguma coisa. Não é nada fácil a vida do sujeito que quer ser útil a sua comunidade.

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