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COLUNAS

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  • 29 de ago. de 2019
  • 2 min de leitura

O psicanalista Hélio Pelegrino- pai do arquiteto, artista, e grande amigo Helinho- além de inteligente e poeta, escrevia como um príncipe. Soprado pelas musas, ele disse que o diabo é burro, e por isso nunca ganhará. Genio, Hélio, que Deus o tenha! Lembro-me dessa afirmação dele a toda hora, agora que temos a burrice no poder. Lembro-me do que ele disse quase compulsivamente, como um mantra.


Hélio estava certo no tocante a burrice, pois sendo essa a principal característica do presidente brasileiro, comprovamos, no momento atual, que ela vai de mãos dadas com o fogo infernal, metafórica e fisicamente. Mas devemos acreditar que Hélio estava certo, também no que concerne a impossibilidade de vitória do rei da burrice. Esse fogo, chamando a atenção do mundo, haverá de levar os gregos e troianos que povoam este mundo a se darem as mãos e correr para apagá-lo. Vergonha que o Brazil precise disso, mas já dizia meu pai, que “Quem não aprende em casa vai aprender a duras penas com o mundo” quer dizer, vai aprender sentindo na pele as consequencias de sua cegueira. Os idiotas no poder ja devem estar sentindo na carapaça o desmascarar de sua burrice. A inteligencia é uma qualidade rara, na sua dimensão divina. Quem não a possue, tem que aprender à força, por auto interesse, pois os burros nunca aprenderam “em casa”, quer dizer, com a sua alma. Mas o grito do planeta, ferindo os ouvidos dos que tem um mínimo de consciencia, lhes dará uma lição que, comprendida ou não, vai mandá-los pro “diabo que os carregue.”


“A natureza sempre ganha” disse Camille Paglia, outro gênio. (Desculpem-me as feministas pela minha deferencia gramatical ao masculino, quando se trata de

palavras que podem simbolizar os dois sexos- acho que fica visualmente e sonoramente mais bonito, e simples. “Gênia” não existia, e me soa mais sexista do que “gênio”. Há que se ter humildade).


Antes que a natureza ganhe, `a custa de retaliar totalmente suas feridas (o que já começou a fazer, com o aquecimento global) a burrice ja terá virado cinzas.

 
  • 17 de jul. de 2019
  • 3 min de leitura

Eleonora Duvivier

Ja disse Marcel Proust que os verdadeiros paraísos são os que perdemos (e reencontramos).


Assim me senti quando ouvi Oona Chaplin cantar, numa festa a que fui recentemente com minha família, em Beverly Hills. A voz daquela moça encantada tem gradações tao etéreas que parecem estar entre dois mundos. Ao mesmo tempo em que se pode escuta-la, ha momentos em que parece estar prestes a se desvanescer, atraves dos varios niveis de tom, de som e de emoção que se sucedem na delicadeza crescente da intensidade do coração, como que quase voltando à dimensão do além , que lhe dá origem. A dimensão das fadas, dos anjos, e das ninfas que os gregos acreditavam habitar dentro das árvores; daqueles que inspiram em nós uma reminiscencia immemorial de bem-estar; numa vontade de “partir” para o Paraiso que nos faz redescobrir.


Eu ja havia sido apresentada `a Oona por meus filhos, que ja a conheciam. Sabendo da tradição de amor que minha familia tem por Charles Chaplin, (minha mãe ganhou premios imitando Carlitos, em varias ocasiões) Chris me disse para ser discreta, com Oona. Eu estava curiosissima, porque ele e Olivia afirmaram que ela se parece com o avô Chaplin. De fato. Não é uma questao de traço por traço, mas uma expressão de maravilhamento que vem la do fundo. A alma, talvez.


Quando Olivia me levou ate Oona e me apresentou como sendo mãe dela, Olivia, e de Chris, Oona me saudou com carinho,

“Hi Mom…”

“My whole family loves your Grandfather, and I can see him in your face!”tive que dizer. Ela sorriu.


Isso foi há mais de um ano, e naquela epoca não cheguei a ouvi-la cantar. Mas senti minha mãe ali comigo, diante de uma manifestação tao direta de Carlitos, e me emocionei. Nunca pensaria entretanto, que o canto e interpretação de Oona ainda mais pudessem expressar para mim a dimensão sobre humana que Chaplin atingiu com seu genio, numa linguagem totalmente diferente, bem entendido, mas da qual ele se orgulharia.


Varias pessoas cantaram nessa festa. Embora profissionais, eram somente deste mundo, e, se animavam a dança, por um lado, por outro, puxavam todo mundo de volta pra terra.


Oona canta em espanhol, português e inglês, mas seja qual for o idioma escolhido, o que ela realmente fala é a linguagem dos anjos.


Para quem não sabe, ou não lembra, Oona tem o mesmo nome de sua avó paterna, Oona O’Neill, que encontrou Charles Chaplin aos 18 anos, estando ele ja com 52. Ela era filha do dramaturgo americano O’Neill, o qual, um pouco mais moço do que Chaplin, desaprovou o casamento. Oona e Charlie tiveram oito filhos, sendo Geraldine, que é a mae da cantora que conheci, a mais velha dos oito. Atuou em muitos filmes, incluindo “Hable con Ela” de Almodovar. Seu primeiro grande sucesso foi em Doutro Jivago. Mais importante do que ser linda, ela tinha uma natureza de discrição aristocratica, e uma delicadeza que, como na filha, é pura fôrça spiritual, assim como a do Beija-Flor, cujas asas velozes, no seu movimento quase invisivel, tocam o outro mundo, e, como que libertando-o da gravidade, lhe dê acesso ao mel das flores.


Como testemunha da beleza etérea, so posso concluir este texto citando aquele que tanto convivia com ela.


Nas palavras de Proust sobre uma frase musical da sonata de Vinteuil, (identificado por muitos a Cesar Frank) ele diz que tal frase é revestida em som, mas vem do mundo do invisivel, e se nao nos prova a existencia desse mundo e da vida eterna, nos rende praticamente indiferentes à morte, questionando até mesmo a possibilidade desta não existir. Falando sobre a frase, Proust diz: “ Seu destino estava ligado ao da alma humana, da qual ela era um dos ornamentos mais distintos e especiais. Talvez seja o nada o estado verdadeiro, e a vida eterna é apenas um sonho; mas se assim for, sentimos que essas frases musicais, essas concepçoões que existem em relação ao nosso sonho, também não devem ser nada. Nós morreremos, mas teremos como reféns essas cativas divinas que seguirão e repartirão nosso destino conosco. E a morte na sua companhia é de algum modo menos amarga, menos ingloriosa, talvez até menos provável.”


E nessa sensação inspirada pelo canto de Oona, as seguintes palavras se aplicam, ainda referentes, no caso, `a frase musical:

“… Humana, desse ponto de vista, ela ainda assim pertencia a uma ordem de seres sobrenaturais que nunca vimos, mas os quais, a despeito disso, reconhecemos e aclamamos arrebatados quando um explorador do invisível ( um artista) consegue trazer um deles do divino mundo a que ele tem acesso, para brilhar por um breve momento no firmamento do nosso. Isso foi o que Vinteuil fez com a pequena frase.”


Isso é o que Oona faz com seu canto.

 
  • 5 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura

Desde que Paola decidiu vir a publicar partes do livro que compus com o título acima, e que tem sido “a work in progress”, com ilustrações e textos de minha autoria, achei adequado traduzir a crítica intitulada “A Filosofia de Disney”, que este “work in progress” recebeu, da jornalista americana Peggy Mac Donald- Demosthenous.

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“Juntando-se aos grandes pensadores, que através dos séculos tentaram descobrir o sentido da vida, a filósofa Eleonora Duvivier analisa a esfera mistica e metafisica atraves de um tema, nesse caso, fora do comum: Disney.


Disneyssense foi precedido por seu outro livro “From Mars to Marceline- In Search of Disney” (De Marte `a Marceline- Em busca de Disney) que é uma mistura de fatos historicos relacionados a Disney, filosofia, e puro amor por Disney, Walt e o que ele criou.


Eleonora compara Walt Disney a pensadores de grande influência, como Sócrates, e Kierkegaard. Para ela, Disney indentificou a esfera mística com a corporal, em novas formas de entretenimento, que incorporam nossos sentidos. As atrações revolucionárias que criou nos seus parques tematicos são as primeiras que dão aos espectadores a oportunidade de mergullhar nas estórias que estas desenrolam, e virar seus próprios atores.


“Disney plantou a semente do que, na arte contemporanea, se chama Interação Contemplativa , e que, referindo-se a obras de instalação, requerem a imersão do espectador dentro delas, para que se revelem, atraves da interação com este espectador, que ao mesmo tempo se torna agente”, ela diz, em Disneyssense. “A esfera mística, que considero a da comunicação entre realidades heterogeneas, é responsavel, através desse espectador, por transforma-lo naquele que dá validez ao brinquedo, e portanto o recria, ao mesmo tempo que no personagem, recriado por ele mesmo.” Aqui, eu adiciono, em relação `a transformação mistica desse espectador, que ele passa a ser a união de creatura e criador, assim como Walt, através de Mickey, quem ele é, e quem ele cria, representa o amor e o laço entre criador e criatura.


O exame que Eleonora faz da arte de Disney combina rigorosa análise, com ousada adoração por Walt Disney, e pela criação a que ele deu origem, que continua encantando os jovens e os jovens de alma, através do mundo. Às vezes, seu estilo etéreo é novo e único, como revela o seguinte trecho, de Disneyssense:

“ Injetando personalidade, como foco principal de seu desenho animado, aquele que em volta do qual tudo gira, acima dos limites do que conhecemos por mundo físico que, nesse caso, ao redor do personagem, encolhe, estica, superando suas proprias formas, ao se adequar `a expressao da personalidade, quer dizer, injetando personalidade, acima das leis da ciencia, da lógica, ou da mera contingencia, Disney faz como que uma proclamação de alma sobre matéria. Do mesmo modo, sua reinvençao do elemento fisico, enquanto movimento e visibilidade da fantasia, representa a ascendencia da vida, sobre a realidade”.


Eleonora se apaixonou pelo mundo de Disney, quando ainda criança. Com seis anos, viveu com seus avós-enquanto seus pais estudavam arte na Europa- frequentando uma escola de freiras no Rio de Janeiro, que lhe foi traumática. A menina de então encontrou-se num impasse, diante das lições de religião, que enfatizavam a penitencia e o medo do inferno, como caminho do Paraiso. Sentiu-se salva, pelo seu primeiro encontro com o desenho animado Disney, na tela do cinema.


“Dilacerada entre o medo etico de falhar com os principios religiosos, e o panico do diabo”, ela relata, “ eu fui, numa tarde abençoada, levada ao cinema, para ver A Bela Adormecida. Foi minha primeira vez, diante da grande tela, e de repente, nascendo do escuro, todas as cores do arco- íris me revelaram não só a beleza e magica do movimento de fantasticos, desenhados e multicolores, personagens, como a vitória do Bem, pelo amor; o Final Feliz, aqui na terra.”

O poder da animação Disney teve profundo efeito em Eleonora. “Desde então”, ela explica, “passei a me sentir ou no inferno, ou no paraíso. O paraíso era o mundo de Disney. Fosse em figurinhas, ou no próprio desenho animado, a imagem de Aurora, em A Bela Adormecida, ficou comigo pra sempre, trazendo um transcendente sentimento de alívio.


A caminho da universidade de Boston, para estudar filosofia, Eleonora fez sua primeira viagem a Walt Disney World. “Estar num contexo em que se pode “deixar rolar” é uma benção, e corresponde a um sentimento de redescoberta que é abandono, e ao mesmo tempo, reencontro.”


Amantes de Disney se relacionam com as emoções e idéias, que Eleonora articula com tanta eloquencia, e acompanham suas reflexões poéticas on line.

Eleonora estudou filosofia nos Estados Unidos, Inglaterra, e Brasil. Depois de alguns cursos a nível de pós graduação, ela deixou os estudos academicos, para seguir seu interesse por Disney.


“Olhar Disney filosoficamente tem mais a ver com meu temperamento introspectivo, que naturalmente questiona a vida, do que com uma decisão a priori de faze-lo”, explica. “Essa visão amadureceu quando eu finalmente li as biografias de Walt Disney, assim como muitos outros livros sobre a animação Disney, e percebi a afinidade entre o temperamento de Walt, sua conduta e attitude diante da vida, com tudo a que deu origem.


Diferente das biografias de Walt Disney, Disneyssense procura capturar o espirito de Disney num nível metafísico. Com suas conclusões místicas, Eleonora corteja Disneyphilles de todos os lugares e idades.


De acordo com ela, eles se classificam nas seguintes categorias:

Disney historiadores, Disney aficionados, Disney “geeks”, Disneyans (aqueles que encontram suas raizes no mundo de Disney), Disneystatics (que conheceram a felicidade através de Disney) Disneykharmics (que têm compulsão de ir aos parques, como se os conhecessem de outras vidas) e Waltists (que pensam ser os únicos que realmente decifram Walt Disney).


Colocando o homem atrás de Mickey num pedestal, Disneyssense seguramente agrada a todos estes.


Peggy Macdonald-Demosthenous

 
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