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COLUNAS

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  • 6 de mar. de 2019
  • 3 min de leitura


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Chris, meu filho, se saiu com as palavras que dão titulo a este blog, para definir a atitude de muitas pessoas em Boulder, esta cidade idílica no vale ao pé das Montanhas Rochosas, abrigando milhões de pessoas que se acham, se não iluminadas, no caminho da iluminação.

“Pra qualquer reunião, ou bate-papo, esse tipo de gente vem prefaciar o evento com mil termos absurdos, tipo: Vamos consagrar o espaço… vamos lembrar que somos todos conectados com a criação original, vamos isso e aquilo”, disse Chris, e concluiu, “ Eles vem pra gente com uma espiritualidade agressiva!”

Achei a expressão perfeita. Parece que espiritualidade virou criterio de diferença entre quem ta por dentro e quem não esta, como uma moda. Conhecemos pessoas que participam de círculos (supostamente espirituais) de maconha, de respiração, de peyote, de meditação “transpessoal”, circulos de honrar o sagrado feminino, circulos de tudo que se pode imaginar, e se não menciono rituais de Ayahuasca entre eles, é por não querer jogar o sacramento da floresta no mesmo saco que, “multi-místico”, lembra os pacotes “combo” do Mac Donald’s, que contem batata frita, Coca-Cola (tamanho grande, claro) sanduiche de tres camadas, bacon, ketchup, etc.

Nem de propósito, quando estivemos na Califórnia nos feriados de Natal e Ano Novo, encontramos, na casa que nos foi alugada, milhōes de exemplares de um livro de ensinamentos espirituais, entulhados nas prateleiras da garagem. Vendo o nome da autora, Chris, que alugou a casa pra nós, viu se tratar da dona do apartamento. Peguei um dos volumes pra dar uma olhada, mesmo que a capa, com figuras de eixos geometricos naquele tom roxo de luz de danceteria, contra um fundo negro, também de nightclub, tenha me parecido feia em si, e ainda pior, relacionando-se ao título pomposo do texto, que misturava termos científicos e espirituais, num mumble jumble esquizofrenico. Pra dar uma ideia geral do projeto, a autora definiu graça religiosa da seguinte maneira:

“Graça é o girar dos campos de torção que formam a matéria, a realidade, e a experiencia”!!! (Entenda isso e depois me conta se vc parou no hospício ou, em total indignação, na polícia)

Pra completer a idéia geral do livro da proprietária, informo que nas credenciais do cara que escreveu o prefacio, foi mencionado o titulo do livro que ele próprio escreveu, e que em ingles transmite melhor a pretensão de transformar a esfera religiosa em ciencia (Física) : “The Physics of Miracle”.

Mesmo assim, li passagens aqui e ali, do livro que prefaciou, e logo o devolvi`a poeira da prateleira.

Até então, eu tinha achado aquela casa, que tão bem encarava o mar, perfeita. A divisão do espaço interno transmitia paz. Podia se ver diretamente o por do sol no oceano, de cada uma de suas salas comunicantes, como também da varanda a que davam acesso. Podiamos estar todos juntos naquela área sem nos sentir um em cima do outro, repartindo o mar, o céu e o sol, enquanto faziamos coisas diferentes. Me dei conta de como é bom poder ter pessoas que amamos simplesmente respirando sob o mesmo teto que nós, independente de qualquer comunicação verbal. Nós quatro, sem muito papo, mas com muito amor. Pensei que quem morava ali devia ter uma cuca boa. Mas depois que vi aquele livro, no minimo escrito ali,

fiquei me perguntando como um visual tao esplendoroso se deixara ser mero pano de fundo pra tanta ambição. Pano de fundo pra espiritualidade “de metralhadora em punho”…

Nem a paz da linha do horizonte, nem a divindade da vista ininterrupta do mar levou alguém pré- meditado baixar as armas.

“Mas isso é California, isso é Estados Unidos, after all,” pensei. As armas americanas nunca são baixadas. Em relação `a espiritualidade, elas se chamam “ciencia”, pois, diante da liberdade do espirito, a ciencia, por outro lado, é algo que se pode controlar. Algo que tem regras a se aprender, obedecer, e fazer acontecer.

Na terra do controle remoto, se deve tentar fazer a espiritualidade acontecer, eventualmente apertando-se um simples botão. Mas pra virar passe tecnológico, ela tem que ser primeiro transformada em ciencia, algo sem mistério pois que explicavel, algo que pode ser ensinado, tout simplement.

Obviamente, o livro da proprietária continha promessas veladas de sucesso financeiro. Quem quer controlar, certamente quer dinheiro. Só acho que quem tem saco pra tentar aprender a controlar o mundo espiritual nunca será capaz de baixar as armas, e bem merece o engôdo daquele livro.

 
  • 2 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura

Conversando com uma amiga, chegamos ao assunto da diferença, não so entre as pessoas, em si, como entre seus gostos, ideias, e partidos. Ela tinha me contado que certa vez, no passado, um dos seus amigos, ao ve-la entre outros, falou, em tom de crítica, “…Nossa, os teus amigos são completamente diferentes de voce!”, “… claro, por isso são meus amigos, voce acha que vou querer espelho?”, ela respondeu.

Mas a diferença, em geral, é dificilmente aceita. Para alguns, é simplesmente insuportável. Esses são os que vem dar ordens, querendo que os outros façam ou pensem do mesmo jeito que eles. Difícil de conviver, pois só te dão as opções de obedece-los, ou brigar com eles.

Odeio obedecer e odeio brigar, mas se for para optar, brigo.

O problema da diferença, num ambito maior, aparece na democracia. Cada um tem o direito de votar em quem quiser, e para que o individuo tenha essa liberdade, sem constranger uns e temer a “autoridade” de outros, o voto, em princípio, é secreto. Mas, acreditar nessa liberdade, `a custa da discrição de um voto que, ao invés de secreto, ja foi anunciado pra tantos quanto se foi capaz, é hipocrisia . De objetivo, a democracia não tem nada, pois é a maior ocasião para que se receba, e se faça, pressão de todos os lados.

Pra começar, as pessoas vão se revelando através das campanhas. Todo mundo participa como pode das campanhas por quem torcem, e o gritam a plenos pulmões. Brigas ocorrem, entre amigos, e familiares, cada polo se intitulando autoridade última, e boa vontade para “a verdade”, achando, reciprocamente, que o outro lado esta de ma fé, ou tem seus interesses egoístas, o que obviamente também acontece de qualquer lado. As pessoas, se achando autoridades, querem se expor como tal. Campanhas ja nascem da injustiça, pois, mais dependem das quantias que vão sustenta-las, do que da eficiência de quem promovem. São também ocasiões pra todo tipo de chantagem, mentira, e suborno. Honesto seria somente o proprio partido, ou candidato, falar ao povo, e convence-lo, ou não. Sem ter que pagar a media, subornar quem quer que seja, ou fugir de debates. Campanhas tendem a reduzir a diferença entre candidatos a um problema de força monetária.

A inaceitação da diferença dá origem ao autoritarismo . Aqueles que so suportam ver os outros como espelhos de si proprios se sentem agredidos, pela diferença. Não devem ter aquele espaço interior so deles, de onde nasce a convicção, e diante da diferença, ficam sem saber quem eles proprios são. Então reagem com indignação, para se afirmar exageradamente. Seu autoritarismo esconde sua incapacidade de conseguir se assumir sozinho. Ao contrário da liderança, autoritarismo é disfarce de fragilidade.

Outro problema é que, mais e mais, as pessoas confundem o limite entre diferença e discriminação. Diferenciar é caracterizar, e não discriminar. Confundir as duas coisas é golpe de misericórdia, na aceitação da diferença.

Pois, se o “politicamente correto” em muita coisa é “correto”, em outras, é massificante, quer dizer, torna a caracterização de alguém, muitas vezes, práticamente impossivel, como se todos os humanos fossem identicos. No entanto, o reconhecimento de diferenças fisicas, e intelectuais, entre as pessoas, se não for usado em favor da condescendencia, é no mínimo, enriquecedor. Mas a ficção de igualdade perde de vista parametros. Referir-se`a beleza de uma mulher, para caracteriza-la, por exemplo, é considerado “sexista”, no entanto, não só mulheres, como homens, se forem sinceros, hão de admitir gostar serem identificados pela beleza, se ela na verdade os agraciar.

A beleza, que, muda e incondicionalmente, é bem vinda muito antes da palavra; luxo que dispensa o discurso …

Quem não quer, essa benção do silencio?

Continuando os exemplos, caracterizar alguém como “escuro”, ou “preto” é incorreto, mas como “loiro”, ou “alto”, não. Isso só faz reafirmar os velhos valores conservativos, e preconceitos sociais locais, que enxergam, nos loiros, a evocação do primeiro mundo, e nos “escuros”, de escravidão. Mantendo-se essas evocações, os preconceitos são igualmente mantidos, atrás de uma simples façada.

Vista como discriminação, ao invés de simples caracterização, o reconhecimento da diferença é banido. Se reconhece-la é tão ameaçador, e ao mesmo tempo, tão éticamente nobre, o politicamente correto oferece a solução, com a ficção : Somos todos iguais, quase identicos, aliás…

Em outras palavras: É proibído ver que “ o rei está nu”, se ele estiver!

 
  • 19 de dez. de 2018
  • 4 min de leitura

Perto do Natal do ano passado, determinei-me procurar uma igreja

que celebrasse a missa em Latim, para , na missa do Galo, melhor

lembrar a significação verdadeira do Natal, acima da ganancia do

mercado, como da mesquinhez do “dever” que este nos impõe de dar

presentes, seja lá de que maneira, para gregos e troianos, e também, do

nosso próprio materialismo.


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Pela primeira vez, tinha assistido, via Youtube, Pavarotti cantando

Adeste Fidelis, (Oh come, all ye faithfull). Na sua intensidade, ele

incarna exatamente o papel de anunciador do Nascimento milagroso,

daquele de quem sempre, na verdade, devemos lembrar, e que, na

banalização do comércio, da comilança, da troca e julgamento

silencioso de presentes, se torna tão difícil.


A civilização é profana, de modo geral.


Mas Pavarotti, como o grande artista que era, demonstra, por pequenos

movimentos, expressões, e nuances na voz, uma dignidade quase orgulhosa de ser escolhido para congregar os fiéis, ao mesmo tempo que

a humildade, diante de tal sublime missão. A convicção que ele expressa

de ser especial, enquanto alerta aos fiéis, juntamente com a reverencia

altiva, diante da missão que em muito o ultrapassa, transmitiu pra mim a

natureza angelica. Só ela pode ser orgulho, na humildade extrema. O

chamado de Pavarotti me deu a certeza de que anjos existem e que, de

fato, anunciaram o Nascimento de Christo.


Qual não foi minha surpresa ao descobrir, logo depois, uma igreja, bem

aqui em Boulder, onde a missa é celebrada em Latim, uma vez por semana e, claro, no dia 24, `a meia-noite. Nunca encontrei essa raridade

nas outras cidades em que morei, aqui nos Estados Unidos, e soube que

até na Italia, não é facil encontra-la.


Fui apresentada ao poder do rito com seis anos, através do

Cristianismo, na escola católica que frequentei, cujas missas eram

celebradas em Latim. Embora eu não entendesse nada do que era dito,

sentia grande fôrça no mistério reverente do que ouvia, e quando o padre

levantava a hòstia para a adoração dos fiéis, a alvura e precisão da

circumferencia que nunca se trae, nunca se desvia de si mesma, tornando tudo o mais `a sua volta, com excessão do crucifixo central, a que ela era

erguida, quase inexistente, ou mero pano de fundo, me encantava. Pra

mim, ela era mesmo o próprio corpo de Cristo, em toda a luz e

integridade tão precisa, mágica mesmo, da rodinha branca, e não um

símbolo deste, como parece decretar o Protestantismo.


Lembro da revolta de minha mãe, quando o vaticano destronou o

Latim, em favor das línguas locais. para a celebração da missa. Havia

recato e mistério no ritual original, em que o padre tudo celebra, de

costas para o público. Parecendo assim, estar mais com Deus do que

com a “audiencia”, ele ergue a hóstia ao Cruxifixo, acima do altar, Hoc

est enim corpus meum, ( Eis o meu corpo).


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Mamãe estava certa, quando dizia que nessa popularização da missa,

o padre, virado para a sua “audiencia”, parece dar um show, ao invés de

estar consigo mesmo, na introspecção sagrada da oração. Amén.

A comunhão, que na celebração popular, qualquer um pode oferecer,

botando, sem nada dizer, a hóstia na mão dos fiéis, que, em fila, nem

precisam se ajoelhar (como clients recebendo o pão, na fila da padaria, e

logo dando lugar ao seguinte) enquanto na celebração em Latim, só o padre pode oferece-la, e o faz primeiro aos sacristães, com a prece que

tanto honra a sua verdade: Ecce,agnus Dei, ecce qui tollis peccáta

mundi ( Eis o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo) obtendo

deles a resposta, Domine nom sum dignus, ut intres sub tectum meum,

sed tanto dict verbo, et sanabitur anima mea” (Senhor não sou digno,

que entreis em minha morada, mas diga uma só palavra, e minha alma

será salva). Passando então aos fiéis, a anuncia também com a prece,

“Corpus Dómine nostri Jesu Christi custódiat animam tua in vitam

aetérnam” (que o corpo de Cristo preserve tua alma na vida eterna). Que

diferença!


Nesse ultimo domingo, o “nosso” padre, durante o sermão, falou

sobre o Natal, dizendo aos aos fiéis que se lembrem de Cristo, do seu

Nascimento, e não somente da preparação de ceias e presentes, que

trocamos com aqueles mais proximos de nós. Fácil recomendar, difícel

fazer.


Como esperar a lembrança de Cristo, durante algo que se tornou a

ocasião mais commercial do mundo, tendo o seu ritual banalizado?


Lembrar-se de Cristo não é somente assistir a missa do Galo, seja esta

em Latim, inglês, ou português, e mecanicamente rezar. Lembrar-se de

Cristo é tentar ser um pouco como ele, e sua infinita generosidade.

Os presentes que cobiçamos, e trocamos entre nós, não deixam de

representar, na alegria e prazer em dar, a presença de Christo. Mas, para

que não se tornem mero resultado de instituição commercial, que muitos

consideram ser tudo, em termos de Natal, devem ser extendidos a outros

que, sem eles, tem todos os motivos para olharem essa data com

cinismo, pensando que o tal Papai Noel só gosta de rico.


Devia haver uma lei, exigindo que todas as familias, da classe média `a

abastada, se responsabilizassem pela alegria de uma ou duas crianças de

familia pobre, ou simplesmente abandonadas, com presentes tao bons,

quanto os que damos `as nossas crianças.


Para crianças, nada de utilitarismo, e sim, encanto. Brinquedos, ao

invés de coisas úteis, são portadores desse encanto, que condiz com a

“existencia” de Papai Noel.


O mercantilismo nunca deve sufocar o ritual, e sim ajudar a servi-lo.

So podemos ficar dignamente contentes, com nossos presentes, se

experimentarmos desapego em ajudar, decentemente, e sem

condescendencia, os menos favorecidos.


Adeste Fidelis!

Sejamos como os primeiros fiéis, quando a constante auto-superação e

auto-descarte da indústria, com a ganancia que tanto multiplicaram, não

existia. Devemos aprender a fazer, da alegria materialista com nossos

presentes, e do orgulho em ver o jubilo das pessoas próximas que

presenteamos, um estímulo para o desapego, e altruismo.


Dominus Vobiscum!

(O Senhor esteja convosco!)

 
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