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COLUNAS

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  • 15 de out. de 2018
  • 3 min de leitura

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Antes de contar, no proximo blog, sobre a visita de Benki ao Colorado, quero compartilhar a experiencia ímpar que tivemos em Aniwa, rezando pela natureza, com Paco Andino. Ele é um indio Inca, do Peru, mora em Cuzco e faz rezas e shamanismo em picos de 13000 feet nos Andes. Com outros, tem a missão de guardar o conhecimento milenar que vai ajudar a nos lembrar quem verdadeiramente somos, e re encarnar Aquilo que sempre existiu dentro de nós, ha muitos mil anos, quando , segundo eles, o homem vivia em total consciencia animista com todo o cosmos. Quando a humanidade passou desse estado unificado, centrado no coração, para uma postura mental regida pela separação, pelo mêdo, e pelo ego indivdualizado, os WisdomKeeepers, dentre os quais Paco Andino é um, se retiraram para lugares remotos para guardar os caminhos plenamente conscientes da vida , até o “final dos tempos”, quando as pessoas acordarão para lembrar-se de suas origens e novamente escolher a Verdade sobre o poder. Para eles, chegamos a essa junção e é agora que essa linha ancestral de Wisdomkeepers Andinos oferece `a humanidade um legado eco-espiritual para nos ajudar a ascender de nossas cabeças `a sabedoria do coração .

A presença de Paco Andino emana o bem-estar que transcende, do amor incondicional. Emana a humildade e intensidade dos anjos.. Ele me lembrou o que disse Kierkegaard, referindo-se ao Cavalheiro da Fé, personagem que imaginou de extrema simplicidade e humildade, bem na linha de Paco. O grande filósofo cristão, que criou o existencialismo, declarou que iria a qualquer parte do mundo em que soubesse poder encontrar o Cavalheiro da Fé. Tive a sorte de descobri-lo nesse Inca peruano das montanhas. Agradeço!



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Participávamos do segundo Aniwa- encontro de líderes indigenas de países diversos- que este ano foi realizado no estado de Nova Yorque, no parquet Fishkill, antes de continuar, quero agradecer a Rudy Randa e Vivian Vilela, por realizarem este encontro, e trazer a sabedoria ancestral de vários “elders”para os Estados Unidos, como, no ano passado, para Ibiza.

Diante da crise do planeta e dos conflitos da própria civilização, grande parte dos americanos vem se tornando consciente de sua grande necessidade espiritual, e se abrindo a tradições místicas e a tipos de conhecimentos milenares,, radicalmente diferentes de toda a sua ciencia, tecnologia, e escravidāo aos processos exatos dessa mesma tecnologia. Nao é atoa , aqui em Boulder ja se brincou que todos se acham iluminados, ou sentem o compromisso de vir a se-lo.

Nossa abertura começou em 2008, ,nas visitas ao Brazil em que conhecemos algumas tribos de indios brasileiros, e através deles, Ayahuasca. Desde então, o movimento dos indios, e sua mensagem, pelo planeta, tem crescido e se desenvolvido na Europa e Estados Unidos. Para mim, isso é a realização de um sonho, pois desde aquela época, em que primeiro conheci alguns deles , suas plantas e práticas shamanicas, acreditei que trocas entre sua cultura e a do mundo occidental podem salvar o mundo.


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A conetividade entre toda a criação original foi perdida com o dominio do pensamento estritamente racional, cientifico, e utilitario, que responde e dá origem ao desenvolvimento tecnólogico. Ironicamente, enquanto esse pensamento se desenvolve o melhor que pode na direçao de uma postura de alerta, atenção imediata, e do raciocinio mecanico que lida com a exatidao envolvida na eficiencia da comunicaçao digital, aquilo que chamamos de inteligencia do coração fica sem lugar, sem tempo, e sem solicitação. Tambem ironicamente, a comunicação que resulta da conetividade electronica só parece ter aumentado os conflitos globais, tornando o planeta pequeno demais para caber tantas diferenças radicais entre credos, culturas, formas de governo, e religiões. A consciencia animista , que por outro lado, tudo irmanava na sabedoria do coracao, no amor, por assim dizer, foi perdida.

Em nossa participacao na oração e oferenda de Paco Andino a terra, ao fogo, e ao ceu, senti, sem precisar do uso de qualquer planta psicoativa, a recuperação dessa consciencia animista, no estado de amor que esse indio Inca emana de si, na sua comunicação com a natureza (Pachamama) e com os elementos. A beleza de suas palavras, oferendas de flores, intençoes e pensamentos, não era maior, ou diferente, dessa que, invisivel e sublime, se transmitiu na humildade, delicadeza, e intensidade de Paco.

Senti-me em outra dimensão, como se tudo fosse perdão, liberdade, e reencontro com algo muito remoto, porém, intensamente presente. e sei que outros tambem sentiram o mesmo. Como dizia Marcel Proust : “Les vrais paradis sont les paradis qu’on a perdu.”

(“Os verdadeiros paraísos são os paraísos que perdemos”)

Wisdomkeepers rezam por toda a humanidade nos lugares sagrados dos Incas, nos Andes. Resgatam o sentido do sagrado, que tudo unifica, ao mesmo tempo que devolvem a cada um, na sabedoria do coração, e na consciencia do amor de Deus, o seu verdadeiro ser.

Sentir, para crer!

 
  • 10 de jul. de 2018
  • 3 min de leitura

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Estava no quintal com os dois cachorros, Nala e Bowie,  para que eles fossem ao seu “banheiro” natural, e na espera, eu poder fumar um charutinho. Bowie sabe que foi feito para ser mimado; sua raça, Cavalier King Charles, ganhou esse nome porque o rei  Charles não ia para lugar nenhum sem a companhia de alguns desses cachorros. Bowie tem 6 meses, é super mimoso, ao mesmo tempo que` avido caçador. Quando caminho com ele pela vizinhança, tenta abocanhar tudo que é menor que ele, de formigas e borboletas a esquilos. Nesses momentos, puxo-o pela coleira. Mas como o quintal é fechado, nem ele, nem Nala, precisam coleira.

“Quando vão fazer o que tem que fazer?”, perguntava- me, enquanto os assistia, sentada no banco que balança.

Num dado momento, em que Bowie fuçava à volta de uma arvore, ergue-se um passarinho  de trás dela , num voo rasteiro de filhote, que o levou até o canteiro do outro lado, onde ele se escondeu,  num emaranhado de arbustos. Bowie é super veloz, tem uma coluna super flexível e vai aos pulos, como um coelho. Rapidamente alcançou o ponto em que o passarinho se escondera, e de onde eu estava, só podia vê-lo de costas, examinando os  arbustos.

Sentada no chão, Nala, que `as vezes também tenta caçar, só fazia assistir, ou por indiferença, ou por ter compreendido que não lhe permitimos matar bichinhos.   Na fração de segundos em que vi Bowie sobre a coberta verde do passarinho, me lancei sobre o local, com o coração na mão, ja imaginando ter que libertar o filhote dos dentes caninos, ou vê-lo sangrando, na terra. Cenas de correr para emergencia veterinária, Steve dirigindo, e eu segurando nas mãos a agonia de um pássaro; talvez vendo-o morrer antes de la chegarmos, ou de nem precisarmos ir, ele aparecendo na terra já destruído, assim que eu levantasse Bowie dali, se alternavam na minha cabeça, e nos sobressaltos do meu coração.

Naquele breve instante, vivi um dia inteiro de sofrimento, e respirei fundo, no momento definitivo… Era agora, quem sabe tinha chance de… Agarrei Bowie pelas costas, e o suspendi com as duas mãos. O pássaro, que era um Robin, se encontrava ainda de asas semi-abertas, quase deitado  entre a cerca e os arbustos, bico aberto, olhos assustados, na entrega do desespero. Uma das asas estava mais aberta que a outra, e me fez temer que Bowie a tivesse quebrado, mas não vendo resquícios de sangue, nem ouvindo pios de dor, libertei a mão esquerda, envolvendo o pequeno pássaro, e o levantando dali, enquanto equilibrava Bowie, pressionado sob meu braço direito.

Bowie de um lado,  passarinho assustado de outro, determinação aqui,  fuga ali, ferocidade à direita, medo á esquerda,  rasgando-me em duas para mante-los afastados, a sem poder libertar nenhum, antes de chegar de volta `a porta da sala, e fechar Bowie do lado de dentro. Foi então, que vi outros Robins pousados na cerca, acompanhando o que se passava, como se fossem a familia do passarinho.

Um deles olhou para mim fixamente, e sua cabecinha cor de terracota realçava os dois pontinhos de luz de seus olhos penetrantes, cujo brilho cintilante vinha daquele ponto que, profundeza de seu ser, e altura do céu, o lançava rectilíneo, determinado, e intenso, dentro da minha alma, refletindo, na gratidão dourada do final da tarde,  sua mistura de alegria, limpidez, e certeza.

A mensagem daquela carinha iluminada e suave tinha a força de ser inexorável, e o poder de ser extrema. So podia vir da mãe do passarinho. Sob um halo de sol, o seu agradecimento ecoava no languido fosforescer daquele final de tarde, iluminando e celebrando  o salvamento do passarinho. Vi tudo tão rápido, enquanto ainda equilibrava Bowie se esperneando, e segurava o pássaro resgatado, ao mesmo tempo. Quando, outros de seu tipo se aproximaram, como que clamando a sua devolução, eu ja estava fora do canteiro, e o deixei na parte de cimento do canto do quintal, pouco antes de alcançar a porta da casa, com o sedoso e escorregadio Bowie debatendo-se  vigorosamente para escapar,  finalmente conseguindo aterrisar no chão, logo depois que entramos.

No simbolismo psicológico, pássaros representam espírito. No contexto utilitário da sobrevivência, eles são presas, ou predadores. Mas o que senti ao salvar aquele Robin, entre seres e elementos da natureza, conspirando a seu favor, mais que alívio, foi um momento  único de liberação. Predador ou presa, animal ou símbolo, o pássaro que salvei, espírito, também me salvou.

 
  • 29 de mai. de 2018
  • 4 min de leitura

Outro dia, meu filho Chris, que estava de visita, e preparando um jantar com os vários amigos que vêm sempre visitá-lo, me chama la da cozinha, ” Tem uma surpresa aqui pra voce!” Desci correndo, e dentre os jovens animados, Rob Finn se destacou e nos abraçamos,  na alegria de um reencontro que dispensava palavras.  Reconheci facilmente, naquele cara alto, de olhos grandes e escuros, o menino que há mais de quinze anos fora o melhor amigo de Chris, quando moràvamos na cidade mais careta do país.

Rob foi especial pra mim naquela época. Lembro-me a primeira vez em que fui buscá-lo em sua casa, para  passar a tarde brincando com Chris. Os dois, que não tinham mais de onze anos, ainda usavam calça curta, e quando Chris me apresentou o amigo, enquanto eu manobrava o carro em sua rua, olhei pra trás, onde estavam sentados lado a lado, e no rosto sorridente que vi, notei logo os dentinhos caninos se sobressaindo sôbre os outros, “Voce tem dentes de vampiro…que fôfo, nice to meet you!”, falei, acariciando os seus joelhinhos de leve, `a guisa de uma saudação. Rob, com o mesmo sorriso, respondeu, descontraído, “Nice to meet you!”. Notei, entretanto, uma expressão meio zangada, no rosto de Chris.

De fato, na segunda vez em que fomos buscar Rob, Chris me disse, “ Mãe, não fica “tocando” no meu amigo…ele vai pensar que vc quer fazer sexo com ele”. Entre a surpresa e vontade de rir, achei Chris tão exagerado que dei também um tom exagerado `a minha resposta, “ Voce acha possível que uma criança da idade dele possa pensar que a mãe do amigo quer sexo com ele? Pera lá…”

Chris não falou nada, e eu continuei a ser carinhosa com Robert, como era no Brasil, com as crianças de quem gostava.   Chris se lembrava disso, e resolveu relaxar. Rob era o único que parecia totalmente `a vontade com adultos, e eu achava super fofo ouvir a sua vozinha fina, cada vez que me encontrava, “Hi Mrs Dodds!”

Ele era ótimo em qualquer esporte, e junto com Chris e outros amigos, viviam entrando em campeonatos de snowboard, através do país.

Um dia, quando fui buscar Pat, um dos outros, convidaram-me a entrar. Pat ainda não estava pronto, e enquanto eu falava com sua mãe, alguns dos seus irmãos se aproximaram. Durante aquela troca de assuntos vazios entre ela e eu, um pequeno anjo aparece, de repente, e, bem baixinho, fica ali parado, observando-nos com olhos azuis enormes e cintilantes, no rosto rosado cheio de sardas, sob cabelos tão louros que prateados. Antes que sua mãe me dissesse quem era, não resisti afagar aquela cabecinha que parecia um raio de luz, “ Este é John, o mais moço, tem cinco anos…” ela falou, enquanto o menino enrubescido fez uma expressão furiosa e se esquivou, “ It is all right, John, behave…” a mãe lhe disse, entre risos histéricos, como se compreendesse a sua reação, e lhe pedisse para ter paciência com a estrangeira que fora indecente com ele.

A ficha caiu.

Minha filha, quando tinha sete anos, chegou do colégio uma vez, e me disse toda orgulhosa, “Mãe, hoje eu aprendi que cada um de nós tem uma bolha invisível `a sua volta, e a gente não pode pisar dentro dela e chegar muito perto da pessoa. É a bolha da privacidade, que a gente tem que respeitar!

O que???

Pensei que ela estava brincando, pois no Brasil e nas culturas Latinas que conheço, não se traça limites imaginários nem `a volta de quem tem doença contagiosa. Lembrei-me da fúria do irmão de Pat….. “Que gente esquisita…”, pensei, “Será que tem medo fóbico de germes, ou sera que veem sexo em qualquer contacto físico?”

A lembrança de uma das lavagens mentais do Admirável Mundo Novo me deu a resposta: “ Esterilização é Civilização”.

Evitar germes também significa evitar contacto físico, e contacto físico, quando tão discriminado, evoca sexo, e passa a ser duplamente indecente. O jeito era mesmo eu aprender a “me comportar”.

Com Rob, entretanto, nunca houve problema. Devo dizer que ele era o único a oferecer ajuda para arrumar a bagunça que faziam em nossa casa, quando brincavam. Quando decidi aprender Snowboard, ja com quarenta anos, e ia praticar na única montanha perto da cidade, morria de vergonha de envergonhar meu filho, pois além de ser muito mais velha do que a garotada, era também bastante pior. Procurava ser discreta, e nem chegar perto das pistas íngremes que eles escolhiam. Uma vez, entretanto, não houve jeito de evitar encontra-los na fila do “ski lift”. Cada um olhou para uma direção diferente, mas Rob, ao contrário, me encarou e disse, em plena nevasca, “ Hi Mrs. Dodds!”

Que educação impecável! Como podia ele agir tão diferente dos outros? Seria porque seus pais ja tinha se divorciado e estavam, cada um, no segundo casamento, como eu e Steve? Seria isso, e o fato do pai ser dono de um bar boêmio, aliás o único da cidade, que os impedia ser caretas? Ou simplesmente essa liberdade resultava do temperamento individual de Rob?

Impossível dizer. So sei que além da maneira com que me tratava, o menino tinha personalidade, e auto-confiança. E só mesmo a auto-confiança permite a alguém ser desarmado e aceitar carinho, sem precisar interpreta-lo.

Os Estados Unidos é um pais que orgulhosamente se considera exemplo de liberdade. Mas a cultura Americana se apoia em regras pra tudo, mesmo que não explicitamente verbalizadas. Regras sociais, regras de como andar na rua no lado certo, regras de manter distancia, regras de não olhar no rosto de quem não se conhece, regras de não beber álcool na rua, nem que seja simplesmente na calçada do bar em que se entrou. E as importantes regras de respeitar a “bolha invisível”!

Não deixo de gostar daqui, mas para mim, liberdade é ser desarmado. Liberdade é poder receber carinho, sem ver nele perversão. Liberdade é não ter que imaginar germes, no azul do ar.

Liberdade é poder ver charme nos caninos de um menino, sem fazer ele ficar se torcendo de vergonha.

Aliás, dessa vez em que reencontrei Rob, fiz todo mundo rir, inclusive ele próprio, quando lhe perguntei, “ E os teus dentes de vampiro?”

 
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