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Geena Davis e a diferença percebida

Liguei a TV outro dia e lá estava ela; Geena Davis, muito tempo depois da última vez em que a vi numa minissérie americana, onde era a Presidente dos Estados Unidos. Fiquei pensando quanto tempo havia se passado desde então e comecei a me lembrar do que lia a respeito dela. Uma das coisas que ficaram foi uma certa unanimidade da crítica quanto ao fato de ela não ter sabido direcionar bem sua carreira. Como se ela tivesse dado vários start ups mas que a coisa não havia engrenado bem, que ela nunca tinha conseguido “completar” aquele sucesso que havia surgido.

Achei uma coisa muito interessante e pensei que cabia registrar aqui. A sua iniciativa por melhores papéis femininos nas mídias de TV e cinema em seu país, que realmente influeciam o resto do mundo.  Foi vendo TV com sua filha, talvez sentindo-se mais na assistência do que sob as luzes, que Geena percebeu a enorme diferença de qualidade e quantidade entre os personagens femininos e masculinos. É sabido que atores hollywoodianos sempre ganham uma montanha de dinheiro a mais do que as mulheres e a primeira a conseguir igualar seu valor de mercado a um ator, foi Demi Moore quando fez Strip Tease. Infelizmente, anos depois saiu do mercado e difinitivamente desta competição.

Mas voltando ao insight de Geena Davis, ela não parou por aí, apenas observando. Usou sua influência e conhecimento e no Annenberg School for Comunication, na University of Southern Califórnia,  passou a patrocinar o maior projeto de pesquisa já empreendido no gênero, em entretenimento infantil, o que resultou em quatro estudos distintos, incluindo um sobre TV para crianças.

O estudo é dirigido pelo Dr.Stacy Smith e já mostrou que havia quase três personagens masculinas para cada personagem feminina em cada filme analisado pela equipe de estudantes da escola de comunicação de Annenberg.

Um ano depois, a atriz se juntou ao grupo sem fins lucrativos Dads and daughters, com o intuito de lançar uma ação dedicada a equilibrar o número de personagens masculinas e femininas nas duas mídias. Dois anos depois disto, nasceu o Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia. Sua missão é realizar um programa ativo, que trabalhe em colaboração com a poderosa indústria do entretenimento a fim de aumetar de forma drástica _ palavra usada por eles _ a presença de personagens femininas nos meios de comunicação dirigidos à crianças e reduzir os estereótipos em relação à mulher, numa indústria dominada por homens.

Aí caímos na questão cultural, fortíssima e inegável que o envelhecimento da mulher, na maioria das vezes tira-lhe a beleza ou o apelo sexual do “feminino” mesmo. O que vende é mulher nova, bonita, não necessariamente saudável ou sã. É o corpo, é o apelo. E isso, vamos combinar, não vai mudar em menos de cem anos. Mas descobrir o caminho para viver essa transformação que a vida impõe é um grande passo e Geena Davis merece ser aplaudida por isso.

Ela certamente não estava pensando só nela, uma vez que este estudo visa agregar ao imaginário infantil, proporcionando-lhe figuras reais, com novos valores de vida, para que em seu desenvolvimento, os pequenos construam nessa imensa rede de marcas, sentimentos, impulsos, informações, que é nosso inconsciente, valores seus, reais e com algum conteúdo. O resultado disso não pode ser diferente de adultos melhores num mundo de mais qualidade.

Palmas pra ela.

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