"A Porra da Arte" escancara a atitude audaciosa de quem a faz
- andréia gomes durão
- 25 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de nov. de 2019
Com curadoria - e participação - de Osvaldo Carvalho, a exposição coletiva "A Porra da Arte" tem vernissage nesta quarta-feira, dia 27, às 19h, no Glicerina Café e Galeria, em Laranjeiras.

"Nada nos une mais que a arte, essa mesma que nos convoca à introspecção, que nos faz ver para além da fragilidade da vida, da frugalidade do cotidiano, e que é capaz de nos fazer únicos no planeta. Nossa distinção (de Homo Sapiens) vem dessa capacidade de criar, de inventar, imaginar o impossível e construí-lo num acordo tácito entre nossas atividades recreativas, indagar o possível e constituí-lo de mistérios, por outro lado.
É por essas razões que muitos temem a porra da arte. Ela vai tocar não feridas, mas falácias, vai expor antes mentiras que verdades. Não é campo aberto para plantio de sementes domesticadas, ao contrário, é terreno árido onde nascem, crescem e dão frutos somente as ideias mais vívidas. Aquele que busca na arte remanso é ingênuo, não percebe por onde vão suas raízes, engana-se de boa-fé, talvez, porque arte é espinho nos dedos dos tolos, espada nas mãos dos aguerridos.


Temos hoje, em nossa cena cultural, um claro desejo de morte da cultura, uma tanatofilia artística que extrapola os limites do respeito pelo outro com ataques sórdidos, em que verificamos postulados invejosos, mesquinhos, no nível da mera incompetência pessoal ressentida do sucesso e reconhecimento alheios. O que era para ser meio de catarse (como apregoariam os gregos da antiguidade), purgação do que é bizarro na natureza humana, e que tende a degradá-la, é renegado em sua essência como perversão, prática abominável àqueles cujos antolhos não permitem enxergar o outro, ao lado, o todo, a completude do ser.
Parafraseando certo politicastro mítico seguido por essa turba, "o interesse na cultura não é no artista, nem na porra da arte".
E o que será, então?


Uma pequena amostra disso está reunida nesta exposição em que artistas dispõem suas percepções e cognições da vida (em sociedade) à descoberta do espectador, aos critérios do diálogo, ao desejo de ampliar a rede do encontro. É esse desejo, pragmático, que leva o artista aos lugares mais improváveis, porque sabe que lhe é indiferente, hoje, o local, a circunstância, o que conta é se reinventar no tempo e no espaço, porta-voz de uma época que se fará ecoar, em suas criações, como cartas para o futuro, lembretes, lembranças, avisos. O que interessa, de fato, é saber por andamos, para saber para onde vamos."
Osvaldo Carvalho


Artistas participantes:
Aldones Nino
Alexandre Dacosta
Agrippina Manhatann
Andre Sheik
Bosco Renaud
Cecilia Cipriano
Cecilia Ribas
Dalton Romão
Dani Soter
Diogo Tirado
Eduardo Mariz
Elias Lazaroni
Erika Tambke
Fábio Carvalho
Gladson Targa
Giselle Vieira
Jaques Faing
Ligia Teixeira
Lyz Parayzo
Lucas Assumpção
Luiz Badia
Márcia Clayton
Marco Antonio Portela
Mayra Rodrigues
Nathan Braga
Osvaldo Carvalho
Panmela Castro
Paulo Jorge Gonçalves
Vinicius Davi
Yoko Nishio
Zoè Gruni

"A Porra da Arte" poderá ser visitada até 15 fevereiro. O Glicerina Café e Galeria fica na Rua General Glicério 445 loja C, em Laranjeiras.
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