Cildo Meireles abre exposição no Rio após intervalo de dez anos
- andréia gomes durão
- 20 de nov. de 2019
- 3 min de leitura
Sem expor no Rio de Janeiro há cerca de dez anos e em uma galeria carioca há mais de 30, Cildo Meireles inaugurou sua mostra "Múltiplos Singulares", na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon, nesta terça-feira, dia 19. Cerca de mil pessoas passaram pelo vernissage, público que se estendeu ao exterior da galeria, ocupando inclusive a calçada em frente à livraria Argumento, que também decorou toda sua vitrine com livros do artista.



Com curadoria de Paulo Venancio Filho, o artista apresenta na mostra quatro trabalhos inéditos e outros nunca mostrados no Rio. Um deles é uma obra de arte sonora feita com Iris Lettieri, a inesquecível voz do Galeão, que continua na ativa, com a mesma voz impecável, e prestigiou a abertura. A individual traz objetos e gravuras de diferentes formatos e materiais, produzidos ao longo de cinco décadas.
Aos 71 anos, o carioca Cildo Meireles fez sua última retrospectiva no Rio no ano 2000, quando apresentou uma grande mostra no Museu de Arte Moderna. Na exposição da Mul.ti.plo, que vem sendo gestada há dois anos, o público carioca poderá ver de perto um conjunto importante de obras, que lidam com noções da física, da economia e da política, temas recorrentes na obra dele. Entre as 16 peças reunidas, quatro são inéditas e foram sendo produzidas em segredo. As surpresas só foram reveladas no dia da abertura.



"A ideia da mostra se consolidou há dois anos, no meu ateliê, com o Paulo Venancio, a partir de um objeto criado há décadas, que sintetiza a instalação-performance 'Sermão da Montanha: Fiat Lux', apresentada há exatos 40 anos, em 1979, no Centro Cultural Candido Mendes. Foi uma provocação à ditadura militar, durando apenas 24 horas. Muito pouca gente viu. Desde então, guardo essa maquete, e agora, finalmente, concluí o trabalho", explica o artista.
"Eu também já tinha combinado uma exposição na Mul.ti.plo com o meu amigo Maneco Müller", acrescenta. Sócio da galeria, Maneco fala da obra surpresa da mostra, com a participação da locutora Iris Lettieri. "Um dia, Cildo me revelou um projeto, concebido nos anos 70, que só poderia ser realizado com a voz única dela. Não perdi tempo. Fui ao encontro de Iris e conseguimos realizar o desejo do Cildo, com a mesma fala impecável e inesquecível", explica Maneco.



"A exposição apresenta múltiplos de Cildo Meireles, que trazem em si o pensamento das grandes instalações do artista", explica o curador. Uma delas, por exemplo, tem ligação com "Metros", trabalho apresentado em uma emblemática exposição na Documenta, em Kassel (Alemanha, 2002). "Os objetos e gravuras reunidos exemplificam o pensamento de grandes trabalhos de Cildo, sendo alguns pouco vistos", diz ele. O público pode conferir de perto também uma nova edição das notas de "Zero Dólar" (1978-1994).
Considerado um dos artistas mais importantes de sua geração, o premiado Cildo Meireles possui obras no acervo de uma das maiores instâncias de consagração da arte contemporânea do mundo, a Tate Gallery. O artista expôs lá ao lado de Mark Rothko em 2008. Obras do artista fazem parte também da Coleção Cisneros (NY, Caracas), do Pérez Art Museum (Miami, EUA), da Fundação Serralves (Lisboa, Portugal), de Inhotim (Brumadinho, Brasil), do MAC (Niterói, Brasil) etc.
Com sucessivas participações na Bienal de Veneza (Itália), na Documenta (Kassel, Alemanha), Cildo traz no currículo ainda mostras individuais no MoMA e no Metropolitan, em Nova York. Atualmente, o artista está também com uma grande exposição na capital paulista, que vem lotando o Sesc Pompeia. "Para essa individual no Rio, procurei reunir o mais significativo conjunto de múltiplos do Cildo, em uma espécie de retrospectiva, de forma que as duas se complementassem”, conclui Paulo Venancio.
"Múltiplos Singulares" pode ser visitada até 19 de janeiro de 2020. O Mul.ti.plo Espaço Arte fica na Dias Ferreira 417 sala 206, no Leblon.
Fotos: Alan Miguel Gonçalves
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