"E no mar estava escrita uma cidade" tem vernissage sábado
- andréia gomes durão
- 25 de set. de 2019
- 2 min de leitura
Artistas com diversidade de linguagens, mas com olhares voltados para
as cidades - onde vivem ou por onde passaram - capturaram essas experiências com suas marcas sócio-cultural-políticas e fizeram transformações impregnadas
de sensações peculiares. Cidades que sofrem alterações contínuas em suas paisagens e traçados, se adaptando e se renovando, deixando registros que a vida impõe.

São condições adversas.
São referências de memória.
São estruturas arquitetônicas.
São olhares transformadores.
Esta é a proposta de "E no mar estava escrita uma cidade", com vernissage neste sábado, dia 28, às 16h, no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, em Santa Teresa. Com curadoria de Osvaldo Carvalho, a exposição apresenta obras de Arvellos, Heberth Sobral, Jabim Nunes, Laura Bonfá Burnier, Luiz Badia, Luiz Bhering, Osvaldo Gaia, Petrillo, Roberto Tavares e Vania Pena C.


"“Voltamos a viver na solidão,
prisioneiros de uma cidade estreita
e sem ventanas. Mas viveremos.”
Carlos Drummond de Andrade
Curioso reler Drummond em versos de outros tempos que mais parecem mensagens lançadas em garrafas ao mar e que acabam de chegar trazendo notícias não de então, mas do que nos aguarda. Aparenta antever esses dias que vivemos espremidos ante algo que se ergue e acena como retorno a uma matéria escura sobre a qual perdemos o domínio.
A indignação e a tristeza do poeta são ainda hoje nossas também, nós que olhamos uma cidade imersa na fantasia de uma beleza que inventamos ou parodiamos, questões ideológicas entrelaçadas à crença de que a rosa do povo floresça, que essa época de consternação e individualismo seja abolida.



Convidados a falar sobre o urbano, os dez artistas reunidos nesta mostra apresentam lugares revistos, revisitados, imaginados, olhares de referência, de memória, de afeto, outros ares. Contudo, vemos aqui e ali a sobrecarga doída que jaz nas imagens trazidas à tona por quem anda pelas ruas e observa apenas vestígios de uma escrita que enaltecia a cidade, vê ondas apagarem e levarem embora construções de sonhos. A mesma amargura que sentimos ao testemunharmos o descaso público, a inépcia estatal, em suma, o absurdo da vida em meio ao caos social.
Esses artistas não estão imunes a toda dor, pelo contrário, são o nervo sensível que exterioriza o grito, que explode sobre o oceano, quer decifrar o céu noturno que cobriu a metrópole.
O que haverá para se ponderar na balança histórico-cultural deste tempo em décadas que ainda virão, os artistas estão sempre a postos sinalizando e chamando nossa atenção. São eles que esmiúçam em seus trabalhos reflexões necessárias e contundentes, engajados que estão por se manterem alertas em seu campo poético-político (todo ato é político, toda tomada de posição é política).




E no mar estava escrita uma cidade, título que tomo de empréstimo de um verso de Drummond, poderia ser parafraseado e se tornar rio, montanha, campo, qualquer lugar a que as pernas pudessem levar e chegar.
A exposição traz consigo esse desejo múltiplo de ser mais que as aparências, mais do que seu aspecto formal, quer ser possibilidade, apontar alternativas, sem medo de dobrar a esquina, atravessar o cruzamento, é preciso o gesto tanto quanto o senso. Há de se doer, de se dar, de se amar pelo caminho, mas viveremos. E a arte será a nau que gira o mundo e renova a esperança."
Osvaldo Carvalho

A exposição poderá ser visitada até 03 de novembro. O Centro Cultural Laurinda Santos Lobo fica na Rua Monte Alegre 306.
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