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"Lavanda é a cor mais livre", de Angela Od, abre nesta sexta, dia 26

  • Foto do escritor: andréia gomes durão
    andréia gomes durão
  • 25 de abr. de 2019
  • 3 min de leitura

Em sua primeira individual, "Lavanda é a cor mais livre", a carioca Angela Od sintetiza a produção fluida que constrói cotidianamente, entre linguagens como o bordado, a pintura, o tridimensional, o vídeo, a animação e até os games. O vernissage da exposição acontece nesta sexta-feira, dia 26, a partir das 20h30, no Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi (Marp).

Em uma das principais salas expositivas Marp, a artista propõe um convite afetivo e permeável a trocas de variadas gradações, em que a peça central é o recorte, uma mortalha. Assim, mescla atributos positivos e que estimulam a partilha, o convívio entre diferenças e um certo desprendimento – cabe lembrar que a obra passará a fazer parte do acervo municipal, por doação proposta por Angela -, mas corporificado com uma sombra negativa à espreita.

A arte, transgressora por natureza, pode colidir com o obscurantismo que ladra fortemente, o anti-intelectualismo hoje elogiado e o acirramento de ações no plano interpessoal, que reverberam via proliferação de massiva informação falsa pelas redes, por exemplo.


"Lavanda é a cor mais livre" serve para exibir a habilidade multifacetada da artista e atesta um fecundo momento na trajetória, já que a individual é um dos prêmios principais do edital em que foi aprovada no ano passado, na instituição do interior de São Paulo.


Após a presença em diversas convocatórias, Angela consegue amarrar um recorte que traz algumas de suas principais questões conceituais e poéticas. Neste momento, o corpo de obra da artista parece abrir mais espaço para o suporte do bordado sobre tecido, porém é importante destacar que o audiovisual, a pintura e o tridimensional ecoam importantes abordagens dentro da produção (um dos destaques da mais recente SP Arte, no espaço reservado às galerias mais jovens, era uma escultura em néon de sua autoria).


Nos trabalhos têxteis em grande escala, por exemplo, ela elege um suporte que é visto por alguns como apenas artesania e cria pequenas narrativas, anti-épicas, protagonizadas por personagens comuns, que podem ser vistos nas ruas do entorno.


Ao mesmo tempo, a partir de um labor disciplinado – uma pequena peça pode demandar ao menos um mês de confecção – e da rotina do ateliê, Angela mixa referências – de histórias e lendas que vêm da tradição oral de outrora e que hoje ainda persistem em HQs de Enki Bilal, por exemplo – e une o fantástico ao banal (muitos de seus retratados são do círculo de amigos, típicos moradores de grandes cidades), amalgamando, não sem pequenos acidentes com as agulhas, peças visuais de apelo visual inegável.


Na série de vídeos "A Garota Que Não Queria Perder o Controle", por exemplo, Angela abre mão da tecnologia mais novidadeira para criar audiovisuais de grande inquietude, em que narrativas de heróis laterais, ambientadas em cenários de ar low-fi, se mesclam a abordagens em que gêneros tradicionais da história da arte, como o autorretrato, se transmutam por meio de novas roupagens, contudo finalizadas em tom precário.


"Acho que herdo essa capacidade de mesclar as linguagens por todos os meios aos quais posso dispor, que domino a ponto de poder levar para um outro patamar. Trazer o digital para o bordado, por exemplo, mexer no digital, abdicando de imagens realistas... Brincar de simular uma imagem feita numa época em que ela resultava daquela forma por falta de possibilidades técnicas", conta a artista.


Cabe à produção de Angela, assim, o que um dos pensadores-chave da contemporaneidade, Bourriaud, argumenta: "Se a arte contemporânea é portadora de um projeto político coerente, esse projeto é: levar a precariedade até o próprio âmago do sistema de representações pelo qual o poder gera os comportamentos, fragiliza todo e qualquer sistema, da aos hábitos mais arraigados ares de um ritual exótico. A arte é, portanto, uma espécie de ilha de edição tosca que apreende o real social pela forma. De modo mais geral, essas obras produzem a ficção de um universo que funciona de forma diferente".


A arte de Angela Od pulsa entre o anacrônico e o vanguardeiro, o inacabado e o hiperestilizado, o analógico e o digital, o telex e o 3D, o intuitivo e o refletido. No Marp, o ex-observador torna-se participante e pode prender, enroscar, cerzir, amarrar, justapor o que antes era particular, de sua propriedade, em uma mortalha coletiva, que se dispõe e se esparrama pelo chão da instituição. Tal qual um corpo a estender como rizomas partes agora vitais e, mesmo que inicialmente em fragmentos, por fim viram porções essenciais de uma unidade (utópica?). Azul é a cor mais quente? Lavanda é a cor mais livre?


Mario Gioia


A exposição poderá ser visitada até 24 de maio. O Marp fica na rua Barão do Amazonas 323, em Ribeirão Preto, São Paulo.


Fotos: divulgação

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