O UbuWeb e sua democratização da arte desde o pré-confinamento
- andréia gomes durão
- 25 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
Galerias e museus de todo o mundo clamam por mais "like" e "share". A avalanche de conteúdos sobre arte criados ou promovidos no meio online nos últimos dias tomou proporções inimagináveis, e os entusiastas da arte começam até a sentir certa ansiedade do tipo FOMO – "fear of missing out", o medo de perder algo, uma síndrome cunhada por psiquiatras (pasmem!) no ano 2000. O portal UbuWeb pode soar como uma dessas novíssimas iniciativas de digitalização, mas para o tempo da internet, é quase um vovô. A plataforma pioneira e gratuita surgiu em novembro de 1996 e segue operando até hoje nos mesmos moldes: um imenso arquivo colaborativo de arte experimental e de vanguarda, dedicado principalmente à videoarte, arte sonora, e à poesia visual.

O site foi fundado pelo poeta e crítico norte-americano Kenneth Goldsmith, que por sua contribuição e forte engajamento com as artes visuais, foi o primeiro poeta a ser homenageado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, em 2013. Por ser um depósito vasto de preciosidades, o site é um queridinho dos artistas e pesquisadores da arte. São milhares de vídeos, áudios e textos de centenas de artistas e teóricos do mundo todo. Lá o público pode encontrar as vídeo-obras de Laurie Anderson, Hito Steyerl, Maya Deren, Pipilotti Rist, Francis Alÿs, Chris Burden, Richard Serra, John Akomfrah; documentários sobre a arte de Philip Guston e Pablo Picasso; um anúncio para banco feito por Salvador Dalí; seminários e entrevistas de teóricos como Alain Badiou, Jacques Lacan e Theodor Adorno; entre os brasileiros, há muito material sobre poesia concreta em torno dos Irmãos de Campos, Décio Pignatari, Edgard Braga e Pedro Xisto, a Revista da Antropofagia de Oswald de Andrade, as composições de Walter Smetak e o único filme dirigido por Caetano Veloso. O UbuWeb também opera na chave do ativismo digital pela democratização do acesso à arte, já que funciona de maneira independente. O site não faz anúncios, tampouco comercializa obras de arte, e disponibiliza trabalhos nem sempre respeitando os direitos autorais (mas que podem ser retirados caso solicitado pelo artista).
Ainda assim, a plataforma recebe o apoio de diversas universidades norte-americanas para sua difusão. Até mesmo no aspecto estético, mantendo o mesmo layout desde a fundação, o site preserva o desejo de guerrilha no território digital, cada vez mais colonizado pelas grandes corporações.
Comments