"Os olhos cheios de cores", de POU, tem vernissage nesta segunda-feira
- andréia gomes durão
- 18 de jul. de 2019
- 2 min de leitura
"Os olhos cheios de cores", primeira exposição individual de POU - nome artístico do professor de filosofia da arte Paulo da Costa -, tem vernissage nesta segunda-feira, dia 22, às 18h, no Folie à Deux, no Cosme Velho.

"A pintura em aquarela é uma das mais fascinantes (e talvez a mais antiga) técnicas pictóricas. Sendo fluida como a água, exige do pintor um aprendizado contínuo sobre como abrir mão do controle total para poder dançar com o acaso. Em geral, a boa aquarela tem um quê de improviso - como um bom jazz, comunica o flow sentido no ato de criar, privilegia a sugestão ao acabamento, e exibe um saudável senso de desapego.
É a viagem que importa, muito mais do que as chegadas, que no fim apenas sinalizam o início de uma nova viagem. Não me admira que haja um parentesco natural entre esse tipo de pintura e a filosofia zen. É impressionante o que se pode aprender pintando aquarelas.

Uma vez que não há muito tempo para deliberações exaustivas, cerebralismos - a tinta seca rapidamente e não permite muitos retoques - aprendemos a confiar em nosso instinto. Mais do que uma técnica, a aquarela é uma atitude. Quanto mais confiante você estiver, quanto mais livre de hesitações, mais as coisas tendem a dar certo.

Há alguma relação entre pintar aquarelas e surfar: cada pintura é uma onda, e quando a onda quebra, a pintura impõe o próprio fim. Como tudo acontece muito rápido, a aquarela não abre espaço para distrações. Solicita imensa concentração, converte sua prática numa espécie de meditação, em que o "eu", sempre tão ávido por controle, suave e prazerosamente se desfaz. Você não está mais lá, só o seu instinto.
Foi nesse estado que criei a série de aquarelas de "Os olhos cheios de cores", que foram geradas em momentos de intenso deleite visual, em que me tornei mais espectador do que autor do movimento das tintas. São trabalhos que desenvolvi ao longo do último ano e que trazem a marca de minhas principais referências no mundo da pintura: Volpi, Guignard, Klee, Nolde, Matisse.
Trabalhos em que busquei, acima de tudo, a liberdade da cor. Queria encher os olhos de cores, como na letra de "Alegria alegria", de Caetano Veloso. Talvez o observador possa pelo menos intuir, no trabalho fixado, a beleza de ver as tintas correndo, ocupando o papel com a graça da água."
POU (Paulo da Costa) é professor de filosofia da arte no departamento de História e Teoria da Arte da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É também músico e ensaísta, autor do livro "A tábua de esmeralda e a pequena Renascença de Jorge Ben".
O Folie à Deux fica na Praça São Judas Tadeu.
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