Retrogosto, individual de João GG, apresenta "memórias residuais"
- andréia gomes durão
- 5 de ago. de 2019
- 2 min de leitura
"Retrogosto", individual de João GG, com curadoria de Hélio Menezes, tem vernissage nesta terça-feira, dia 06, na Zipper Galeria, em São Paulo. Na exposição, que integra o projeto Zip’Up, cada trabalho é tão ostensivamente novo quanto opera um déjà vu: fotografias de paisagens que se parecem com outras paisagens; objetos novos que remetem a ruínas; elementos arquitetônicos modernos que evocam coisas antigas; isopor com aspecto mineral; uma trilha sonora fragmentada que deixa intuir uma possível familiaridade.

Os objetos remetem a diversas referências, mas não são exatamente nenhuma delas, são híbridos ou, nas palavras do artista, há "memórias residuais" impregnadas nos objetos e fotografias, e por estes conjuradas.
A individual parte de dois processos centrais no trabalho de João GG: ambientação e deslocamento de sentidos. A ambientação é pensada pelo artista a partir das relações que os objetos expostos mantêm entre si, e de como este convívio produz o ambiente. O deslocamento é um procedimento presente na produção do artista, que trabalha plasticamente um símbolo ou uma imagem altamente codificada até o limite de sua reconhecibilidade, ponto em que o objeto passa a ser apreendido naquilo que sua matéria e cor dão conta de reter.
"Rugosidade e lisura, figura e fundo, verticais e horizontais, calor e frio, justaposição de texturas e cores, entre outros pares de opostos complementares, fazem emergir dos objetos de João GG efeitos dramáticos e sensoriais, como se os polos esboçassem definir todas as possibilidades de matizes intermediários", afirma o curador Hélio Menezes.
Há nas formas criadas pelo artista um interesse pela representação da paisagem. As esculturas em isopor, ainda que lembrem formas virtuais renderizadas, mantêm aspectos rochosos, que sofreram desgaste por alguma força exógena. As formas se relacionam, também, com uma estética da cultura de consumo, da linguagem publicitária e do vitrinismo.
"Ficção e hibridismo são elementos importantes do trabalho, já que o resultado final costuma ser uma associação de três ou quatro referenciais distintos", conta João GG. Nesta direção, o trabalho "Altar em bump-mapping" (2019) é uma pista para o conjunto da exposição: duas formas escultórias quase simétricas remetem a um altar, embora não venerem divindade alguma.
"A noção de retrogosto, ou aftertaste, é sempre algo sensorialmente específico, mas impossível de definir sem que a substância da qual procede seja evocada, mesmo que seu gosto seja diferente, como por exemplo o gosto residual de aspirina ou do vinho", acrescenta o artista.
"Retrogosto"poderá ser visitada até 31 de agosto. A Zipper Galeria fica na Rua Estados Unidos 1.494, no Jardim América.
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