"Vaivém" exibe leituras da rede de dormir entre os séculos 16 e 21
- andréia gomes durão
- 26 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Por meio de 350 obras de 141 artistas, a exposição "Vaivém" exibe representações da rede de dormir entre os séculos 16 e 21, para além do simples objeto de repouso, no CCBB Rio, a partir desta quarta-feira, dia 27 de novembro. A mostra, sob curadoria de Raphael Fonseca, tem a participação de 32 artistas indígenas contemporâneos, que produziram trabalhos inéditos para o evento.

Símbolo da identidade brasileira, a rede está em obras de Bené Fonteles, Bispo do Rosário, Claudia Andujar, Debret, Djanira, Ernesto Neto, Hélio Oiticica, Luiz Braga, Mestre Vitalino, Rugendas, Tarsila do Amaral e Tunga.


"Longe de reforçar os estereótipos da tropicalidade, esta exposição investiga as origens das redes e suas representações iconográficas: ao revisitar o passado, conseguimos compreender como um fazer ancestral, criado pelos povos ameríndios, foi apropriado pelos europeus e, mais de cinco séculos após a invasão das Américas, ocupa um lugar de destaque no panteão que constitui a noção de uma identidade brasileira", argumenta o curador, que pesquisou o tópico durante cinco anos para o seu doutorado em História da Arte na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).



Para além da interpretação mais corrente de indolência, a rede de dormir se apresenta em "Vaivém" com outros tantos enfoques: da arte, da subsistência, resistência e permanência: de Debret e Rugendas a artistas contemporâneos como Hélio Oiticica e Tunga, Paulo Nazareth e Opavivará!, passando pelo Zé Carioca de Walt Disney, deitado na rede, para marcar a identidade brasileira do personagem, e a imensa produção indígena de representações deste objeto criado pelos ameríndios antes da chegada dos europeus às Américas.


Naine Terena, professora doutora da Universidade Federal do Mato Grosso, escreve em um dos textos do catálogo da mostra: "Não cabe mais ver as redes como espaço de descanso e decoração. Necessita-se admirar sua representação e compreender que materialidade é a prova da resistência ameríndia. Que por trás da beleza e da forma existem focos de resistência. Que tecer ou criar a partir delas é arte, ativismo. É atividade. É sobrevivência. É ser".
Enquanto objeto material, a rede de dormir é um tipo de tecido com alças. Originalmente de fibras naturais, passou a ser feita de algodão com franjas pelas mãos das mulheres portuguesas, pós-invasão do país. Hoje, são fabricadas de formas e materiais diversos. Os elementos são os mesmos desde sempre: o pano em forma retangular, onde se deita ou senta, as cordas que ligam o pano aos punhos, em forma de aro, encarregados de sustentar o peso que o pano recebe e manter a rede suspensa pelas extremidades em armadores ou ganchos. O quarto elemento é a franja nas laterais, chamada varanda.



"Vaivém" poderá ser visitada até 17 de fevereiro. O CCBB Rio de Janeiro fica na Rua Primeiro de Março 66, no Centro.
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