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COLUNAS

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  • 25 de abr. de 2017
  • 3 min de leitura

Nunca pensei que pudesse ser tão fácil acabar com o mundo material de alguém. A gente imagina que pode ser doloroso, mas fácil, nunca. E é essa a minha descoberta mais recente.

Desde que minha mãe se foi, esperei. Todos os casos que conheço de pessoas que quiseram “queimar” esta etapa rapidamente, são ruins. Geraram mais dor, arrependimento, enfim, outras dores que a gente não precisa ter além da morte de alguém amado. Tão amado.

Resolvi que deixaria pra depois por falta de coragem e algum respeito, além do raciocínio explicado. Quando eu olhava pra uma gaveta e dava pra ver as roupas de dormir dela, me dava um aperto que ia além da dor; a partir de então sua intimidade seria cruelmente revelada contra sua vontade, de forma quase abrupta. Sempre respeitei muito a intimidade de minha mãe, a ponto de ela me achar exagerada.

E assim o tempo foi passando até a temperatura cair… Eu comecei a ver amigos em movimentos diferentes para levar roupa de frio a quem estava na rua e achei que estava na hora de deixar de ser egoísta com a minha dor e mexer nos armários a fim de dar utilidade ao que ela deixou.

Desde o início, eu tive um critério. Suas coisas não seriam dadas a qualquer pessoa, espalhadas por aí, nem jogadas dentro de uma caixa e levadas a uma igreja, por exemplo. Pensei logo nisso com os santos dela. Ela tinha um altar, que a princípio tinha apenas sua santa de devoção, Nossa Senhora das Graças, numa imagem que a acompanhava desde os 13 anos. Com o tempo, depois que ficou mais velha, ganhava muitos santos de quem viajava e algumas vezes comentou com ar irônico comigo: “Paola, quando a gente fica velha, todo mundo traz santo de presente de viagem pra gente”. Talvez porque ela tivesse tanta fé, e as pessoas a associassem sempre a isto.

Mas voltando ao seu mundo, resolvi começar num dia a noite, com tranquilidade. Separei o que iria para quem estava com frio, para quem ela gostava, para quem daria bom uso aqueles objetos, e principalmente a quem reconhecesse o respeito que estava tendo à sua figura. Vivi ótimos momentos seguidos de uma tristeza absurda. Mas as coisas têm de ter sentido na vida. Tudo tem de fazer sentido e foi esse o caminho encontrado. Sem falar que a única recomendação dada por ela nesse sentido, era a quem não dar seus pertences.

Dei o certo pras pessoas certas, disso não tenho dúvida. Com isso tive vários bons encontros onde o amor por ela era presente em mim e na pessoa amiga. Mas a estranheza maior, que ficou me martelando a cabeça, foi pensar em como se acaba com 90 anos de uma vida intensa, assim, num estalar de dedos. Eu nunca tinha tido um morto antes que fosse meu. As pessoas importantes de minha vida que se foram, meus avós e meu pai, tiveram “as suas pessoas” . Vovô o vovó tiveram a minha mãe, e meu pai, sua companheira, o que no fator dor, foi ótimo pra mim, porque me poupou de muita coisa.

Mas minha mãe era só minha, sou filha única, e protagonizamos uma relação muito intensa durante a vida, com tudo o que isso tem de melhor e de pior. Foi quem mais amei. E de repente, você senta no sofá, olha pro da frente, onde antes ela sentava e pensa que aquela história de que caixão não tem gaveta é muito maior e mais profunda do que quando a gente diz pra alguém com uma postura que merece este comentário ou de alguém que mereça.

A vida é tudo que somos. O que fazemos e principalmente nossa sensibilidade ao nosso semelhante. Ninguém veio pra ter uma bolsa Gucci. Pode ser até bom, pode até ter, mas gente tem de pensar todo dia no tamanho exato que o material tem nas nossas vidas. Nada disso é novidade pra mim, mas exterminando a vida material de minha mãe nesta encarnação, uma libriana linda, vaidosa e nunca fútil, esse sentimento me veio ainda mais, de forma avassaladora.

E não tenho dúvidas, de que mesmo tendo sido muito sofrido, foi o melhor que sua morte deixou pra mim.

  • 16 de mar. de 2016
  • 6 min de leitura

Há alguns meses estava na livraria Travessa do Leblon, na enorme fila da noite de autógrafos do publicitário paulista, Mentor Neto. Essas filas sempre nos dão a vantagem de poder ver livros com calma. Desde que a Internet entrou em minha casa, há exatos 20 anos, o maravilhoso hábito de folhear livros em livrarias foi se acabando. Naquele dia, eu podia !!

A fila, longa e lenta, me permitiu passar por varios assuntos diferentes, até mesmo mandar uma mensagem para minha amiga Elayne Ferreira e enviar foto do corner dos guias de viagem, numa brincadeira séria: pra onde nós vamos este ano? Rápida no gatilho quando o assunto é viagem ou festas, saídas, tudo que remete a um bom programa e de forma confortável, ela imediatamente respondeu dizendo o nome de uma cidade. Comprei o guia porque acabei dando  todos os meus, que já tinham mais de vinte anos. Vamos aos atualizados !

Resolvida esta questão, a fila andando, cheguei a um livro que me chamou atenção: “As 20 coisas que você tem de fazer antes de morrer”. Não estou bem certa se eram vinte ou outro número, mas esse título me deixou curiosa. Já pensando em comprar, abri e vi que o olhar da autora era muito diferente do meu e que, pra mim, bem entendido, o livro nao serviria para nada. Foi aí que comecei a pensar…

E num caminho inverso, pensei no que já havia feito e que não pretendo fazer jamais. Achei um exercício mental mais interessante. Aí a fila ficou mais divertida pra mim e pensei em algumas coisas, algumas delas, já esquecidas. Vamos lá !

Rock’n Rio – Fui ao 1, ao 2 e ao 3. Está de ótimo tamanho ! No primeiro eu saía de casa ao meio dia e voltava as 8 30h do dia seguinte. Esperei uma hora e quarenta minutos para ver o Queen, debaixo de chuva e valeu. Até mesmo quando um coroa, todo bebado e cheirado caiu em cima de mim, sentada num plástico grosso sobre a lama mole e puxou uma amiga, que com o susto, reagiu e começou a bater nele. Eu me lembro disso como se fosse hoje !! Perguntei: “Será que vocês poderiam continuar isto em outro lugar?”. Mas eu era jovem, não sabia que minha coluna existia e pude ver James Taylor, realizando um de meus sonhos mais ‘profundos’, digamos assim, olhando as estrelas com amigos queridos, só me levantando para dançar ao som de George Benson, que fechou a noite. Foi uma experiência singular, e como diz o nome, uma só, não acontece de novo. Já naquela época eu estranhava muito o fato de não ter um único lugar seco, com grama ou algo assim para sentar. Era grande a empreitada. No 2 eu vi George Michael, e no 3, Sting, muito bem acompanhada. Portanto, já deu. A Cidade do Rock é longe, os carros nunca chegam realmente perto, e se na ida já é chato, na volta é dramático.

Disney – Sinceramente, acho que nem se eu tiver de salvar uma vida. Pra mim, Disney é bom quando se é criança. E criança grande, pra entender aquela maravilhosa engrenagem e ainda sentir a magia. Voltei mais velha, de tanto que meus amigos iam e falavam encantados. Eu me senti prisioneira. Quando cheguei ao Epcot, vi aquele terreno enorme, caminho sem volta, calor (em fevereiro), e passando pelas peculiaridades de cada país. Achei um saco. Eu gosto de museu. Da história que cada um tem pra me contar. Ali, era uma bobagem. Comprei camisetas “na Itália” e na “Alemanha” pra dar pro meu amigo alemão, Paulo Schüler. O coitado só pode usar no sítio que tem porque a trama é tão fechada que aqui no Rio é impossível. E tome shows. Daqueles chatinhos, pompons,  musiquinha, as cores da América.

Miami – Vem meio que a reboque da Disney. Pra mim, é uma cidade sem identidade. Muito de tudo, numa cidade que não é nada. Não gosto, não me atrai. nem sei porque voltei a segunda vez.

Madrinha de Casamento – Esta é uma das grandes roubadas da vida, atualmente. E uma roubada cara ! Antigamente, a gente tinha ou comprava _ porque queria e não porque era imposta_ uma roupa legal, ia ao cabeleireiro, fazia uma maquiagem e estávamos prontas para compartilhar a felicidade de nosso casal de amigos, festejando sem ter de se desmontar usando havaianas. Éramos compostas até o final. Agora é uma indústria e vamos combinar, muito chata. Só garotas muito deslumbradas podem gostar de todas essas regras e de ainda ganhar o dia da noiva, num hotel ou algo assim. Fui madrinha de quase dez casamentos. Missão cumprida.

Passeio de Rio em cidades estrangeiras – O único que fiz e foi interessante foi o Bateau Mouche a noite, na minha primeira vez em Paris. Não sou chegada a programas de turistas, sou viajante. Mas esse era um clássico e acabou sendo muito interessante pelos americanos dentro do barco e os faróis que apontam para as laterais do Rio Sena e “flagram” jovens casais em beijos e amassos que assustam-se com os faróis rapidamente acionados. Eu me lembro do Rio Tigre, na Argentina. Eu e minhas amigas quisemos voltar, mas descobrimos que era “mão única”, e tinha-se de ir à frente. Por longas horas. E Buenos Aires fervilhando, esperando por nós ! Ai. ai…

Reveillon no meio do povo – Passei por essa experiência duas vezes, de formas muito diferentes. Na segunda eu estava protegida pela vidraça de um hotel na Orla de Copacabana. Ar condicionado, música, comida e bebida nota 10. Mas ainda assim, voltando à Elayne, o bom é passar por isso hospedada. Porque é óbvio que um esquema de segurança tem de ser montado e que você vira refém dele. Na chegada, como o Rock’n Rio, é chato, mas existe a expectativa. na volta, horas parada no trânsito, onde você está à disposição de um arrastão. Um ano antes, passei no frio novaiorquino, quis ver a maçã cair, coisa que faço até hoje, religiosamente, com a mesma companhia, ar condicionado e sorvendo uma boa bebida. Aquele ano foi uma loucura, Bin Laden estava começando a soltar bombas, era o governo de Clinton e fazia  -15C. Pra ver a bola cair, tive de pular me apoiando no ombro de um holandês, enorme, claro. A ida já foi uma loucura, porque com aquela primeira ameaça terrorista, não se entrava no bochicho pelas tranversais, precisávamos ir até o fim e voltar !! Imagina a volta ?

Show de Claudia Raia – Acho que é auto explicativo.

Permanente ou escova japonesa no cabelo – principalmente para uma pessoa como eu, que tem cabelos lisos que faz cachos nas pontas ! Eu me convenci de que tenho o melhor dos dois mundos, então agora me divirto com as cores. E só.

Marques de Sapucaí – Nunca gostei de Carnaval, apesar de grande esforço. É sério, eu me esforcei muito, principalmente na minha pré-adolescência em Friburgo. Mas a coisa era tão forte, que até pé machucado cheio de methiolate eu inventei. Não gosto, não está em mim. Naquela idade eu me perguntava o motivo de tanta alegria _ adorava festas de Reveillon e dançava até de manhã _ e um pouco mais velha, porque este evento dava a permissão para uma mudança tão grande de comportamento. Os tempos eram outros…

Itália – Devo ter deixado este item por último porque sou uma sentimental. Que consegue ser muito prática também. Quando eu era criança, meu avô estava fazendo 50 anos de Brasil e resolveu levar a família para conhecer a “sua terra”. Imagino o valor para aquele homem, vitorioso, forte, voltar por cima aquele pequeno vilarejo na Calábria, que de tão pequeno nem está no mapa, apresentando seus descendentes, a família que ele fez no Brasil. Eu adorei a viagem. Ficamos lá 32 dias, conhecendo tudo e mais um pouco, e o bom bom Baci virou memória afetiva porque ganhei de minha avó em Fiumiccino. Muitos anos depois voltei sozinha, numa viagem de mochila, iniciada em Londres. Só fui maltratada porque o italiano é tão ou mais machista que o brasileiro e quando veem uma mulher sozinha, tentam lhe cobrar tudo em dobro e coisas assim. Eu me aborreci e perdi a vontade de voltar.

Agora que escrevi tudo isso, fico pensando que tenho muitas coisas sensacionais para fazer ou conhecer, e que “as minhas ruins” não chegam a vinte. Isso é muito bom ! Sinal de que vivi, aproveitei, sorvi muitas coisas boas de culturas diversas em momentos diferentes de minha vida. E pretendo continuar assim !

  • 29 de out. de 2015
  • 3 min de leitura

O vôo da Gol que saía de São Paulo no último sábado, dia 24, às 17 40h, estava cheio, como de costume. Menos aviões, avião completo.

Tudo deu certo desta vez; nem falta de teto, nem problemas de radares, como os de durante a semana, logo estaria chegando ao Rio.

Minha sorte pareceu mudar quando, ao me sentar na cadeira 9D, pude ver, e principalmente ouvir, que dois monstrinhos que atendem pelos nomes de Gustavo e Guilherme viajariam na mesma fila que eu, do outro lado do corredor, com a mãe, absolutamente sem poder de comando sobre eles.

Nunca fui louca por crianças, mas também nunca as odiei. Até certo ponto de minha vida, era algo tolerável, depois acabei sabendo como lidar e até me afeiçoando a algumas, geralmente filhas de amigas de longa data. Era bom ver a continuidade das pessoas que eu amava… Nunca quis ter filhos, não sou maternal e embora filhos só sejam crianças nos dez primeiros anos, essa não era a questão. Meu temperamento é outro e pude excercer isto durante a vida.

Voltando ao avião, eu estava cansada. Fui pra São Paulo no meio da semana a convite de Fernanda Yamamoto, para ver seu desfile, tema de meu próximo post aqui. Mas não fiquei só na SPFW e aproveitei para trabalhar, fazer contatos e reencontrar os amigos. E que amigos deliciosos eu tenho lá! Envolvida nesta atmosfera do que foi bom, do cansaço e da perspectiva de logo estar em casa, eu estava bem. Não fosse por Guilherme e Gustavo.

Este último, uma coisinha mínima, de três anos, que tocou o maior rebu no avião. Se tivessem me dado dez dólares por cada vez que ouvi seu nome, eu teria saído do avião com muito dinheiro.

Quando cheguei ambos gritavam: “Santa Maria ! Santa Maria !” à exaustão. Batucando na mesa que deveria estar fechada. A mãe não tinha nenhuma autoridade sobre aquelas duas crianças muito chatas, mal educadas e profundamente inconvenientes. Quando ela viu meu primeiro olhar, não gostou. Foi só aí que fez seu papel de mãe, defendendo a cria.

O pai, atrás da mãe conseguiu ler durante todo o trajeto. Como, eu não sei. Mas ele já deve estar bem treinado. Viver com aqueles dois monstrinhos num lar de permissividade com certeza não é novidade para ele.

Eu cheguei ao Rio com enxaqueca, muito irritada, odiando aquela família. Mas o que não me saiu da cabeça durante aquele vôo foi como as coisas pioraram de anos pra cá. “No meu tempo”, eles olhavam e a gente entendia. Hoje em dia nem gritando eles param ! Incomodam a todos e parece até que é um prazer para quem tem de viver isto. Não é !!

Esta semana Sócrates Nolasco publicou em seu perfil no Facebook que os universitários já não reconheciam autoridade dentro de sala de aula. Só dentro ?! Essa crise de autoridade é muito séria porque não há limites, hierarquia, escala de valores. Então, o que há?! O que sobrou de nossa sociedade antes tão rígida ATÉ por termos passado por uma ditadura militar que impunha certos limites comportamentais também, para o bem e para o mal ?

Eu me vejo muito desprotegida nessa questão. Porque nã há quem me represente, me defenda deste tipo de situação. Pessoas, muitas pessoas olhando não foram suficiente para aquela mãe domar seus selvagens. Ela chegou a dizer para o menor: “Gustavo, você não tem querer !”, no que eu pensei: “opa, ela agora mandou bem!”, e o garotinho prontamente respondeu: “Tenho sim!”, e ela: “Só do lado de fora do avião, aqui dentro, não!”. Aí eu perdi completamente minha esperança naquele ser humano.

Quando meu pai me dizia isto quando eu era criança, eu queria morrer !! Mas depois que cresci, vi que era verdade. Parece que para os de hoje, não.

Acredito mesmo que ninguém reclamou dentro do avião com medo de tumulto e do avião ter de voltar. Eu mesma não reclamei porque estava doida para chegar em casa. Estamos vivendo cada vez mais na exceção, nunca na regra.

Entrei no taxi e comentei com o motorista, já conhecido, que eu estava alterada e disse o porque. Ele prontamente me respondeu: “Nunca tive esse tipo de problema. Com os meus, era só olhar. Eles entendiam e ainda viravam para trás para conferir se era com eles mesmos, e até endireitavam a postura”. Tempo bom, gente interessada em educar seus filhos, criar cidadãos.

Estou muito preocupada com o que ainda virá por aí.




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